DOMINGO XXIX DO TEMPO COMUM Ano A
“Dai a César o que é de César
e a Deus o que é de Deus.”
Mt 22, 21
Nunca foram fáceis (nem nunca serão) as relações entre os “senhores” deste mundo e a fé cristã. E é de desconfiar quando andam de mãos dadas! Porque a grande maioria dos “senhores” sofrem da tentação da grandeza que os faz pequenos deuses, capazes das maiores atrocidades para beneficio pessoal ou dos seus. E se a “religião” puder dar uma “ajudazinha” até aprendem teologia! Claro que não é preciso olharmos para os grandes “monstros” da história: os escândalos sucedem-se com figuras que achávamos respeitabilíssimas e, quase sempre, com dinheiro à mistura! Como é possível vender-se a honra, a palavra, os valores por mais alguns milhares de euros?
A mesma hipocrisia já grassava entre os fariseus: revoltavam-se contra os impostos romanos mas acomodavam-se e aproveitavam-se dos benefícios que a nova ordem trazia. E, talvez como hoje, não consta que seriam os que mais tinham os que mais protestavam (nunca são os ricos que pagam a crise, pois não?). Jesus ultrapassa a lógica mesquinha e armadilhada dos fariseus. Não proclama uma separação de mundos nem descompromete os seus discípulos da intervenção política e económica. Não encerra a acção dos cristãos nas igrejas e sacristias (como muitos “senhores” gostariam!), mas, pelo contrário, convida a um empenho na construção deste mundo. Quem é de Cristo tem de ser contra a corrupção e o oportunismo, tem de estar do lado dos explorados e oprimidos, não pode refugiar-se nas “capelinhas” onde vão os “bonzinhos” e os “satisfeitos”!
É esse o problema: viver a fé cristã faz-nos incómodos. Não temos as soluções mas podemos indignar-nos, podemos juntar a nossa voz a outras, podemos reflectir em comum. Será que deixámos de amar (ao contrário do nosso Mestre) as ovelhas “negras”, aquelas que correm o risco de se perder ao protestarem contra o conformismo, aquelas que conseguem ver como a imagem de César e de Deus são apresentadas, tantas vezes, justapostas? Temos tido a coragem de levar a Boa Nova de Jesus a “outras terras”, a outros corações ou vamos continuando a “chover no molhado”? Estar “empanturrado” de religiosidade nem sempre significa coragem de viver a fé cristã! E o que dizer do “dai a Deus o que é de Deus”? Se é no Homem que está impressa a imagem de Deus como podemos continuar a tratá-lo como objecto? Cada pessoa é sagrada, vale mais do que todo o dinheiro do mundo, não pode ser explorada, escravizada, oprimida por nenhuma razão.
Em abundantes imagens de desumanidade assistimos ao espectáculo das guerras na Ucrânia e ao reacender do interminável conflito entre Israel e a Palestina. Assinalamos no passado dia 18 o Dia Europeu de Combate ao Tráfico de Seres Humanos com a habitual indiferença. Escreve o Papa Francisco no final da carta “Laudate Deum”: “[este] é o título desta carta, porque um ser humano que pretenda tomar o lugar de Deus torna-se o pior perigo para si mesmo.” Que imagem de Deus somos e vivemos?
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