A tendência natural da criança é querer aprender, mas muitas sentem dificuldades em fazê-lo, ao longo do percurso escolar. Por isso, é preciso estar especialmente atento às ocasiões em que a aprendizagem não acontece, de modo a agir de forma atempada. Em regra, se as crianças começam a recusar aprender ou a não manifestar interesse, não conseguem acompanhar o ritmo de aprendizagem do seu grupo escolar, não têm resultados positivos em certas disciplinas ou precisam constantemente do adulto para realizar tarefas escolares, é porque estão a ter dificuldades e precisam de ajuda.
A prevalência das dificuldades de aprendizagem é de 5 a 20% na população pediátrica. Por um lado, existem perturbações do neurodesenvolvimento, que são patologias de causa genética, como a hiperatividade e défice de atenção, a dislexia, a disortografia, a discalculia, ou a perturbação do desenvolvimento intelectual. Por sua vez, os problemas de aprendizagem também podem emergir devido a fatores emocionais, sociais ou socioculturais que envolvem a criança. Podemos observar desde perturbações de ansiedade e síndromes depressivos, até situações específicas da personalidade da criança, como o facto de ser muito insegura ou demasiado perfecionista, o que faz com que bloqueie com medo de errar. Quando falamos de fatores socioculturais, falamos, por exemplo, de quando a criança está inserida numa família cujo ambiente não é propício para a aprendizagem, ou cujas condições de vida não são favoráveis.
As situações de evolução mais difícil são aquelas em que existe perturbação ao nível do desenvolvimento intelectual e as de causa multifatorial (perturbação de neurodesenvolvimento associada a perturbação de comportamento ou humor e/ou a problemas sócio-familiares), mas, mesmo essas, com uma abordagem multidisciplinar, fazem progressos positivos.
Agir com passividade ou ignorar este tipo de manifestações pode ter um impacto profundo na vida presente e futura da criança. Se a criança não receber ajuda orientada para ultrapassar a sua dificuldade, o processo habitual é sentir cada vez menos autoestima, menos confiança e evitar as tarefas. É um círculo vicioso e isso terá, obviamente, impacto na restante escolaridade. Nisto, os pais e os professores têm um papel fundamental. Os professores devem perceber que aquela criança necessita de uma atenção especial e implementar estratégias de ensino diferentes. São responsáveis pelo apoio pedagógico diferenciado e individualizado na escola, adaptações do currículo e da avaliação a cada criança. Por sua vez, os pais devem acompanhar a criança e perceber que não têm de assumir o papel de professores, porque essas situações levam ao desgaste total da relação pais-filhos.
Na CUF, o acompanhamento destes casos começa por ser feito através de uma análise aprofundada da evolução do desenvolvimento da criança. Procuramos perceber se a criança tem um desenvolvimento psicomotor normal, quando surgiram as dificuldades e quais as suas características. Tentamos obter informação junto da escola, perceber se a criança está integrada ao nível social e qual é o seu contexto sociofamiliar. Depois, fazemos uma avaliação ao nível da leitura, da escrita, da interpretação de textos e problemas, entre outras.
A amplitude do desafio exige uma abordagem multidisciplinar que, no caso concreto do Centro de Neurodesenvolvimento do Hospital CUF Santarém, envolve a integração de várias especialidades clínicas, sendo as mais comuns a Pediatria do Desenvolvimento e a Pedopsiquiatria, muitas vezes complementadas por Psicologia, Psicomotricidade, Terapia da Fala e não só.
Ver crianças felizes depois de uma angústia é o que mais me motiva. Acompanhá-las desde quando não conseguiam sequer identificar duas letras e, mais tarde, vê-las entrar para a universidade ou para o emprego com que sempre sonharam é um privilégio.
Sofia Quintas
Especialista em Neurologia Pediátrica no Centro de Neurodesenvolvimento do Hospital CUF Santarém
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