Este Domingo, solenidade da Ascensão do Senhor, a Igreja celebra o Dia Mundial das Comunicações Sociais e, mais uma vez, o Santo Padre quer ajudar-nos, a todos, a refletir sobre a importância dos media e o modo como estes são utilizados. Na mensagem deste ano, o Papa Francisco centra a sua atenção nas redes sociais lembrando-nos que somos “membros uns dos outros” e que é preciso passar “da comunidade das redes sociais à comunidade humana”, uma comunidade que se encontra e que não se isola em si mesma, que celebra, que vive, que se abre ao outro.
Nesta mensagem, o Santo Padre chama a atenção para o cuidado que é preciso ter com as redes quando estas se tornam meios de manipular ou instrumentalizar o outro, e tantas vezes de gerar divisão ou marginalização. Recorrendo à metáfora da rede como comunidade, o Papa realça que “uma comunidade é tanto mais forte quando for mais coesa e solidária, animada por sentimentos de confiança e empenhada em objetivos compartilháveis. Como rede solidária, a comunidade requer a escuta recíproca e o diálogo, baseado no uso responsável da linguagem”. Neste sentido, sinto que há muito caminho a fazer e penso que deveria existir uma formação cívica para saber viver em sociedade e para a utilização das redes sociais. Porque, vamos percebendo que, nas redes sociais, não há escuta recíproca, há um querer ouvir-se a si próprio, cada um certo da sua razão. E no âmbito da liberdade de expressão que todos invocam – porque felizmente vivemos num país livre e democrático –, não há tento na língua. Cada um diz o que lhe vem à cabeça, sem filtros e sem pensar que a palavra tem força e, quando atinge, fere, ofende, destrói e mata. Daí referir, o Papa Francisco, “o uso responsável da linguagem”. Escondidos atrás de um qualquer ecrã, maior ou menor, as palavras parece que se soltam e não encontram obstáculos, porque aquele que escreve tem sempre a sua razão, talvez por não ter percebido que somos membros uns dos outros, e vivemos uns com os outros. Por outro lado, esta rede – que tantas vezes nos traz coisas belas, proporciona sentimentos de amor, leva a ações de solidariedade e “é uma oportunidade para promover o encontro com os outros” – pode também “agravar o nosso autoisolamento, como uma teia de aranha capaz de capturar”. Os adolescentes, segundo o Papa Francisco, são aqueles que mais facilmente se podem deixar levar, porque “estão mais expostos à ilusão de que a social web possa satisfazê-los completamente a nível relacional, até se chegar ao perigoso fenómeno dos jovens ‘eremitas sociais’, que correm o risco de se alhear totalmente da sociedade”. A rede deve colocar-nos em contacto uns com os outros, não afastar-nos ou isolar-nos. Deve aproximar-nos, não criar sentimentos de ódio. Deve fazer-nos viver em comunhão, não levar a superioridades, ou ao esmagamento do outro. A Rede deve levar-nos a ser Amor.
Editorial, pelo P. Nuno Rosário Fernandes, diretor
p.nunorfernandes@patriarcado-lisboa.pt
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