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A hora
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DOMINGO V QUARESMA Ano B

“Chegou a hora

em que o Filho do homem vai ser glorificado.”

Jo 12, 23

 

Falamos de “horas boas” e de “horas más”, enervamo-nos porque “nunca mais chega a hora”, ou começamos a preparar o coração “muito tempo antes da hora” (tal qual a raposa diz ao Principezinho de Saint-Exupéry). João mostra-nos no seu evangelho como Jesus vai preparando tudo e todos para a sua “hora”: a da cruz gloriosa, da vida dada totalmente (e não tirada), do amor até ao fim que inaugura o tempo novo da graça abundante de Deus, d’Ele mesmo, elevado da terra, a atrair todos a si. Antes de entrar no relato da ceia de Jesus, que abre para a páscoa da cruz e da ressurreição, aprendemos a lição do grão de trigo que só morrendo pode dar vida. 

Ver e conhecer Jesus é o desejo dos gregos que vão ter com Filipe. Desejo que partilhamos com eles, na descoberta do amor radical. O único que vence o egoísmo de guardar a vida, e a autossuficiência de servir-se e querer ser servido. A hora de julgar o mundo e expulsar o seu príncipe é a hora do amor total de Deus na entrega de amor de Jesus. No belíssimo conto “Retrato de Mónica”, Sophia de Mello Breyner Andresen desenha o que pode ser uma vida de renúncia “à poesia, ao amor e à santidade”. Contudo, “a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias.” Pois “Mónica está nas melhores relações com o Príncipe deste Mundo. (…) Não é o desejo do amor que os une. O que os une e justamente uma vontade sem amor.” Quando o amor fortalece a vontade, a toda a hora fazemos milagres!

Com um olhar marcadamente sarcástico e crítico, Yasmina Reza escreveu a peça “O Deus da Carnificina”, que está em cena no Teatro da Trindade, em Lisboa. Partindo de um encontro entre dois casais, para resolver um incidente entre os seus filhos menores, assistimos a um cair de máscaras e quebrar do verniz, numa violência crescente em que se põe a nu a hipocrisia, os valores que se adaptam aos interesses próprios, a vida egoísta em “que se ama sem verdadeiro amor”. É uma hora de confronto (e não de conforto, ainda que em tom de comédia) para olhar ao espelho os alicerces das nossas relações e comportamentos. Onde encontrar ali a vida que se dá por amor?

A glória de Jesus completa-se na doação máxima na cruz. Toda a sua vida e todo o seu amor é concentrado nessa hora de páscoa (passagem da morte à vida). Nem os triunfos fáceis nem a sedução das aparências trazem vida que se multiplica. O que nos faz felizes não é o que possuímos e guardamos, mas o que oferecemos e distribuímos. Deixar para outro dia o bem que é possível hoje, esperar o tudo desvalorizando o pouco, “adiar o coração” nas palavras de António Ramos Rosa, é desvalorizar a força da semente semeada. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, cantava o brasileiro Geraldo Vandré. Podemos ter mais horas de páscoa no tempo que nos é dado?

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