Foi no coração da noite que Nicodemos procurou Jesus. Talvez porque a noite cria espaço para as questões difíceis, ou é prelúdio de uma aurora que ilumina tudo? A passagem das trevas à luz no relato da criação marca o caminho humano: somos “dados à luz”, o saber ilumina o pensamento, brilham os olhos e o coração no amor, desejamos “Lich, mehr licht” (Luz, mais luz) como Goethe, diante da escuridão da morte. Não sabemos se Nicodemos ficou iluminado pelas palavras de Jesus. E nós, que as escutamos hoje: em que luz nos reconhecemos e vivemos?
O anúncio do amor de Deus, da paixão/elevação do Filho do homem, da vida nas trevas e recusa da luz como causa de condenação convidam a abrir os olhos. É um desperdício “ir vivendo”, sem questionar os critérios e as opções que nos definem, mantendo uma vida “a media luz”, sem perguntar quem somos e o que desejamos, sem ânsias de salvação. Ou então, procurando “salvações à la carte”, quer num espiritualismo auto-suficiente, quer num bem-estar de coisas adquiridas ou a adquirir.
É sobre “alguns aspectos da salvação cristã” que trata a carta ‘Placuit Deo’ (Aprouve a Deus), da Congregação para a Doutrina da Fé, dirigida aos Bispos, e aprovada pelo papa Francisco a 16 de fevereiro passado. Descrevendo algumas tendências actuais de “auto-salvação”, uma espécie de “salve-se a si mesmo” sem relação a Deus nem aos outros, reafirma: “a salvação consiste na nossa união com Cristo, que, com a sua Encarnação, vida, morte e ressurreição, gerou uma nova ordem de relações com o Pai e entre os homens, e nos introduziu nesta ordem graças ao dom do seu Espírito, para que possamos unir-nos ao Pai como filhos no Filho, e formar um só corpo no «primogênito de muitos irmãos» (Rom 8,29)”. É a salvação que se vive desde já, com Cristo e com os irmãos, aqui e agora, na prática da verdade, em todo o amor que acende pequenas luzes no meio da escuridão. Por isso, não é uma salvação que cada um tem para autoconsumo; é a salvação de Cristo vivo em nós, irradiando, gastando-se (como a vela acesa, ou o sol e as estrelas), dando vida.
Assusta-nos a noite das dores e da morte. A cruz, em que foi elevado o Filho do homem, parece absorver a pouca luz que ainda temos. Também nos perguntamos: “Por último virá a morte… e depois?”, como Paolo Scquizzato, num pequeno livro que assim se intitula. Percorrendo as perguntas simples e directas que tantas vezes nos colocamos, ele partilha pequenas luzes que ajudam “as mulheres e os homens de hoje a viver o momento presente, longe de estéreis medos e de inúteis sentimentos de culpa, mas sobretudo com um sentido, na serena consciência de que aquilo que nos espera no fim da vida será apenas um abraço de completamento e de eternidade.” O presente e o futuro, com Deus e com todos, podem ser com “mais luz”!
Guilherme d'Oliveira Martins
Num texto já com alguns anos Frei Bento Domingues disse: “Sei que a palavra Deus precisa de ser...
ver [+]
|
Pedro Vaz Patto
Muitos foram os que partilharam fervorosamente a emoção das conquistas de medalhas olímpicas pelos atletas do nosso país.
ver [+]
|
Tony Neves
Assis enche-me sempre as medidas da alma. Já lá fui várias vezes e aí voltarei sempre que puder. Para...
ver [+]
|
Guilherme d'Oliveira Martins
O poema chama-se “Missa das 10” e foi publicado no volume Pelicano (1987). Pode dizer-se...
ver [+]
|