Editorial |
P. Nuno Rosário Fernandes
Quero a boa notícia!
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Acompanhámos, esta semana, certamente, um dos momentos mais difíceis dos últimos anos para o nosso país. As alterações climáticas, em que o Presidente dos Estados Unidos da América não acredita, estão a provocar grandes ondas de calor. Há ainda outros fenómenos naturais, que o homem não consegue controlar, que provocam descargas elétricas em qualquer lugar. Onde há chama, se há combustível, também natural para queimar, rapidamente se alastra o fogo. Em zonas de grande arvoredo, eucaliptais, que são o que mais facilmente cresce para produzir madeira ou até papel, se não há o cuidado da limpeza, ou de um ordenamento territorial coordenado e ordenado, criam-se dificuldades: desde o acesso aos lugares, até aos rastilhos naturais que transportam e alastram o fogo consigo.

No caso do incêndio de Pedrógão Grande, que vitimou 64 pessoas, algumas delas que fugiam de suas casas, outras que circulavam numa estrada que ainda não se sabe porque estava aberta, vão ficar perguntas por responder e culpas por atribuir, que depois se tornam assunto político. Mas o certo é que se perderam vidas, o fogo queimou, destruiu, e agora é preciso renascer das cinzas. Quanto à floresta, a própria natureza encarrega-se disso mesmo. A natureza cuida de si própria e a vida renasce. Se o homem a puder ajudar, melhor.

Quanto às casas, novas paredes se hão de levantar e, graças a Deus, há mobilização nacional com grandes e belos gestos de solidariedade a que eu chamarei de verdadeira caridade, para que isso aconteça. Afinal, pôr em prática o Evangelho está ao alcance de todos e, mesmo que todos não o façam com essa consciência, o gesto é esse mesmo, um gesto de amor.

Quanto às vidas levadas, tenho a certeza que o Senhor as guardará no seu Reino de misericórdia. Mas, os que cá ficam precisam de ser ajudados a encontrar um novo sentido para a vida. Ajudados a viver a dor, que não sabemos explicar e que nestes momentos nos tiram as palavras. Porém, apenas as palavras humanas, porque deve permanecer a Palavra que nos diz: “Não temais”. “No mundo, tereis tribulações; mas, tende confiança: Eu já venci o mundo!” (Jo 16,33).

Porém, no meio de toda a tribulação a que fomos assistindo – onde não poderia deixar de estar presente a comunicação social, e bem, porque tem um papel fundamental para a informação –, fiquei aterrorizado, fiquei em pânico, fiquei quase sem esperança. Sobretudo, sem esperança num jornalismo sério, de autêntico serviço público. Confesso que desta vez centrei-me no acompanhamento televisivo e não ouvi rádio. Talvez precise fazer disso matéria de confissão, porque os pensamentos que alimentei não foram os melhores.

Compreendo o desejo de querer dar toda a informação, de querer estar em cima do acontecimento. Mas não compreendo porque se insiste em estar em cima do fogo, em direto. É mais importante dar informações úteis para todos, do que mostrar o fogo o mais próximo possível. É mais importante dizer como cada um, naquela situação, se pode proteger, ou o que deve fazer.

Vi, em direto, os operacionais chamarem a atenção dos jornalistas para a sua retirada porque, não apenas estorvavam quem luta contra o fogo, mas também punham em risco as suas próprias vidas.

Deixem os bombeiros trabalhar, descansados, sem estarem preocupados com os jornalistas que insistem em mostrar o que não é preciso. Não coloquem a vossa vida em risco desnecessariamente, e muito menos a de aqueles que por qualquer motivo poderá ter de vos socorrer! A procura da melhor imagem, a vontade de ser o primeiro a dar a notícia e o apelo ao sentimento sensacionalista não produzem boa informação.

As informações importantes podem ser enviadas e podem chegar sem criar o pânico em quem vê. O serviço público vai para além da imagem do fogo, e das perguntas inoportunas quando alguém tenta salvar a sua casa. Façam como outros que sei que fizeram: deixaram a câmara fotográfica de lado e foram ajudar quem precisa. Mais importante que uma grande cacha ou uma boa imagem é uma vida salva.
Sei que, depois deste texto, que em parte já publiquei nas redes sociais, vou ser criticado, mas há muito tempo que defendo isto mesmo: talvez fosse mais interessante ver como tantas comunidades, instituições, particulares, empresas, em todo o país, se organizaram para ajudar, e ainda se mantêm disponíveis para o fazer. Talvez fosse mais importante dar sinais de esperança a quem viu as suas vidas ruírem à sua volta. Nas redes sociais, felizmente, algumas dessas ajudas vão sendo partilhadas e comunicadas. Mas nem todos têm acesso a esses meios de informação.

Em determinados lugares houve, inclusive, manifestações de apoio às corporações de bombeiros locais, e muito que precisam de sentir o nosso apoio, porque dão a vida, todos os dias, por nós.

É, no fundo, o encontrar o lado positivo da má notícia que, como diz o Papa Francisco, é a boa notícia.


P. Nuno Rosário Fernandes, diretor

p.nunorfernandes@patriarcado-lisboa.pt

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