Infelizmente, na Igreja de Lisboa, temos o péssimo hábito de não avaliar as iniciativas realizadas, o que faz com que a nossa programação pastoral não tenha alicerces que lhe permitam alcançar objectivos a médio e longo prazo. Se não avaliamos o caminho percorrido, dificilmente vislumbramos o caminho a desbravar. Porque se aproximam as férias e porque a programação dum novo ano não nos pode fazer esquecer as sementes que timidamente começam a germinar, é bom lembrar os principais desafios catequéticos em curso e que esperam por nós depois dum merecido repouso.
A prioridade do primeiro anúncio e da iniciação cristã
Vivemos num novo contexto missionário onde o primeiro anúncio do evangelho adquire um carácter prioritário. A necessidade duma primeira evangelização e reevangelização, impele a catequese a repensar os seus conteúdos à luz da iniciação cristã. Embora distinta do primeiro anúncio, a catequese tem como modelo a iniciação cristã dos adultos, pelo que, este princípio deve estar presente não só no catecumenato baptismal, mas em todas as propostas catequéticas para adultos, jovens e crianças que, na sua maioria, chegam às nossas comunidades sem uma primeira adesão ao evangelho consolidada. Estão já decorrer diversas iniciativas a nível paroquial e diocesano, que apontam o caminho duma pastoral centrada no quérigma e duma catequese que recupera o itinerário catecumenal como fio condutor.
A urgência do primeiro anúncio e duma catequese que tem como modelo a iniciação cristã dos adultos, sugerem-nos algumas prioridades:
- Continuar com ardor renovado, o investimento já iniciado na catequese de adultos (nas suas múltiplas formas) ajudando os catequizandos a confrontar as grandes questões da vida com o Evangelho. Para tal, impõe-se uma catequese que, recordando o essencial da mensagem cristã seja portadora de esperança e de sentido para a vida, respeitadora da pluralidade de experiências e anseios dos destinatários, capaz de fazer germinar a semente da fé derramada no seu coração.
O investimento em meios humanos, subsídios e em formação na catequese da infância e adolescência é ainda desproporcional ao investimento feito na família e nos adultos em geral, sinal de que o caminho a percorrer é longo e árduo.
- Acolher com coração aberto o que nos pedem o baptismo, proporcionando-lhes uma verdadeira experiência de iniciação cristã devidamente estruturada, mas com a flexibilidade que cada situação pessoal exige.
- Incentivar a catequese pré-escolar na família e nos nossos jardins-de-infância, que proporcione à criança o contacto com uma linguagem, simbologia e experiência cristã, que lhe possibilite despertar para a fé no seu ambiente materno e educativo.
A comunidade como lugar da catequese
Só no seio duma comunidade a fé pode germinar, pelo que, a catequese não pode estar isolada da vida comunitária. A catequese tem que acontecer num verdadeiro espaço comunitário. A programação da catequese não pode ser feita como se faz um horário escolar. Não basta garantir um catequista, uma sala e uma hora semanal para que a catequese funcione. É preciso programar espaços, momentos em que crianças, jovens e adultos se possam encontrar e partilhar a alegria de ser cristão. É a comunidade que acolhe, evangeliza e proporciona ao catequizando meios e formas para este se sentir progressivamente seu membro e construtor. Este dado, válido para todas as idades, é especialmente importante para os adolescentes e jovens, para quem a aprendizagem passa essencialmente pelo que se pode experimentar e testemunhar.
A celebração da fé adquire neste contexto um papel primordial, dum modo particular a eucaristia, eixo unificador e gerador de toda a comunidade, através da qual se realiza e actualiza o objectivo de qualquer actividade catequética. Ao mesmo tempo que devemos ter o cuidado de garantir ao catequizando (de qualquer idade) momentos em que a fé seja celebrada, temos também o dever de lhe proporcionar celebrações em que se reveja e se sinta envolvido. Estamos assim perante um duplo desafio: uma catequese que eduque para a celebração celebrando e uma celebração que use uma linguagem perceptível ao catequizando.
Importa ainda recordar que a paróquia, enquanto comunidade de fé, sofre hoje o desafio de novas formas de organização e de vivência em sociedade a que o actual tecido social obriga. A ideia tradicional de paróquia como espaço territorial e humano, organizada em sectores pastorais tem, aos poucos vindo a ser substituído por uma ideia de paróquia como comunidade de comunidades. Tal facto, implica que a catequese, dum modo particular a dos jovens e adultos, deve estar ao serviço da pluralidade eclesial e não pode cair na tentação da uniformização. No mesmo espaço coexistem diferentes experiências de vivência eclesial que devem ser respeitadas e potenciadas.
Uma catequese significativa atenta às grandes questões da vida e da fé
O esforço feito nos últimos anos em âmbito catequético por uma pedagogia da fé personalizada tem sido notável. Importa continuar este caminho tendo em conta alguns aspectos merecedores de particular atenção:
- As grandes questões da vida e da cultura contemporânea que o catequizando traz dentro de si devem a estar presentes na catequese para que esta possibilite o encontro entre o evangelho e a vida sem o qual não há conversão. Temos que ajudar os nossos catequizandos a confrontarem-se com o mundo que os circunda para poderem escolher caminhos de vida em abundância. No entanto, não devemos cair no risco duma catequese meramente existencial e antropocêntrica, a qual põe o homem no centro do anúncio e não o Deus que se revela na pessoa de Jesus Cristo. É em Cristo – Homem Novo que as grandes questões da existência humana encontram resposta. Para tal, é urgente colocar no centro da catequese a Palavra de Deus, pois é ela a chave de leitura da vida e do Homem.
- A catequese deve recuperar uma dimensão apologética (perdida nos últimos anos) capaz de explicar as razões da nossa fé. Vivemos num tempo em que as razões de crer são de extrema importância, principalmente para os jovens e adultos, que procuram um sentido para o seu agir e para as suas crenças. Não podemos ter medo de dizer, expressar e fundamentar a nossa identidade e verdade, pois corremos o risco de transformar a fé cristã num sentimento ou numa alternativa entre tantas disponíveis. A teologia fundamental e dogmática não podem estar ausentes dos conteúdos catequéticos. Não se trata aqui do retorno a uma catequese doutrinal, mas duma exigência própria do diálogo com um homem que valoriza a razão.
- O catequista só é um verdadeiro educador se for uma testemunha de fé e um companheiro de caminhada. Ele tem que estar presente como o seu testemunho de cristão adulto nos momentos marcantes da vida do catequizando, ajudando-o, à luz do evangelho, a discernir e a identificar as encruzilhadas, a confrontar e a partilhar as dores e as alegrias de ser Homem, fornecendo-lhe elementos que possibilitem a sua adesão livre e pessoal a Jesus Cristo e á Igreja.
Conclusão
Os desafios que a transmissão da fé no mundo contemporâneo levanta à catequese não se esgotam nesta breve reflexão. Procurámos evidenciar alguns tendo em conta a sua pertinência e urgência. Em jeito de conclusão, vale a pena recordar as palavras do Cardeal Patriarca de Lisboa na carta que dirigiu a todos os que estiveram envolvidos no congresso da nova evangelização onde definia um conjunto de linhas orientadoras do evento:
Não se preocupar tanto com o número das acções a realizar, mas com a sua qualidade e beleza.
Manter-se, durante todo o Congresso, em oração contínua, pois só o Senhor pode abrir os corações à Sua Palavra.
Estas palavras merecem particular atenção pois sublinham dois elementos fundamentais de qualquer actividade catequética. A prioridade dada à qualidade e beleza, cujo ícone por excelência é Jesus Cristo. A obsessão pelo número e pelo sucesso fácil, mas muitas vezes enganador da massa, têm-nos feito adormecer tranquilos à sombra de actividades que enchem os olhos mas não convertem os corações. E, finalmente, a centralidade da oração nas nossas actividades pastorais. A fé é Dom que se pede e agradece. A sua transmissão não se pode reduzir a conjunto de técnicas ou de planos por mais perfeitos que sejam.
Uma catequese sem a qualidade e beleza que a fidelidade a Deus e ao homem impõem é só mais uma entre tantas propostas. Uma catequese que não inicie à oração e não viva da oração, nunca proporcionará um diálogo de comunhão amorosa com Cristo – tarefa e meta fundamental da catequese.
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