Domingo |
À procura da Palavra
O exterior e o interior
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DOMINGO XI COMUM Ano C

“São-lhe perdoados os seus muitos pecados,
porque muito amou.”
Lc 7, 47

 

O encontro de Jesus com a pecadora em casa do fariseu Simão tem relevo de “caixa alta” no evangelho de Lucas. Ele revela como Jesus se deixa tocar, e toca, perdoando e “misericordiando” (como diz o Papa Francisco) aquela mulher, e todos nós. Os gestos da pecadora exteriorizam o amor que a habita, o desejo e a confiança de um amor sem limites que vem de Jesus. Não é fácil a coragem de invadir um espaço que lhe era interdito, de derramar as lágrimas de uma vida complicada, de expor a ternura a tantos olhares inquisidores! E enquanto Simão e os outros vêm o exterior e se distanciam, julgando e condenando a mulher e até duvidando da santidade de Jesus, nos seus gestos Ele reconhece os sinais do acolhimento e da hospitalidade, nascido de um coração que muito ama. Nos escaparates das notícias, várias situações que envolvem mulheres têm tido relevo. A violação de uma jovem no Brasil comentada por um professor de Direitos Humanos brasileiro: “os criminosos nem têm a noção de que estão a cometer um crime, porque a mulher ainda é vista como objeto” (DN 6.06.2016); a violência psicológica e maus tratos sobre uma jovem num “reality show” televisivo apresentada como uma “situação normal”; noutro canal televisivo, a uma vítima de violência doméstica há 40 anos foram dados conselhos de dar “amor” e “mimo” ao marido. Podemos estar apenas a ver o “exterior”, mas que “interior” revelam estas e outras situações? Deixamos que elas nos “toquem” para as podermos transformar em mais vida e dignidade? Não se pode separar o perdão do amor. Não pode ser um acto rotineiro, de “desobriga” que se cumpre exteriormente, sem que o coração se mova. Quem ama sabe perdoar e descobre que nada está perdido para sempre, que é possível aprender com os erros (e essa é já uma “graça” do pecado reconhecido!), que Deus não deixa ninguém no seu passado, mas está sempre a abrir futuros! E o amor exterioriza-se em gestos, nos sentidos com que cuidamos e tocamos os outros, nas múltiplas expressões do amor que faz crescer. Utilizando uma parábola sobre dívidas, Jesus procura despertar o coração de Simão para a abundância de amor que Deus tem para todos. Um amor que não contabiliza nem mede, e nos pede que façamos o mesmo. O perigo é pensarmos que não precisamos dele por nos julgarmos perfeitos ou melhor do que os outros, intocáveis e acima das imperfeições humanas. Sobre o coração dos padres, o Papa Francisco dizia aos padres no Jubileu dos Sacerdotes, na celebração do Coração de Jesus: “O coração do pastor de Cristo só conhece duas direções: o Senhor e as pessoas. […] Não é atraído pelo seu eu, mas pelo Tu de Deus e pelo “nós” dos homens. […] Com olhar amoroso e coração de pai acolhe, inclui e, quando tem que corrigir, é sempre para aproximar; não despreza ninguém, estando pronto a sujar as mãos por todos. O Bom Pastor não usa luvas... […]. É transformado pela misericórdia que dá gratuitamente.” Como nos alegramos com o amor de quem não desiste de tocar Deus?

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