DOMINGO V QUARESMA Ano C
“Nem Eu te condeno.
Vai e não tornes a pecar.”
Jo 8, 11
Poucos dias depois de assinalar-se o Dia Internacional da Mulher, o encontro de Jesus com a mulher adúltera do Evangelho de João revela uma actualidade premente. Segundo a organização não-governamental Action Aid, a violência doméstica é responsável pela morte de cinco mulheres por hora no mundo. No Largo Camões, em Lisboa, foi inaugurada nesse dia 8 de março, uma exposição dos jornalistas Teresa Campos e José Carlos Carvalho (da revista Visão) que percorreram Portugal para dar a conhecer as histórias das 28 mulheres “mortas por quem dizia amá-las” ao longo de 2015. Em 2014 tinham sido 42. A Action Aid prevê que mais de 500 mil mulheres serão mortas por seus parceiros ou familiares até 2030! Noutro tempo e lugar, em contexto de infracção à Lei, Jesus deteve a fúria sanguinária de quem queria agir “em nome de Deus”, para tirar a vida à mulher apanhada em adultério!
O lugar é o mais sagrado de Israel: o templo. Jesus está sentado, como mestre, a ensinar, mas ao nível humano dos que O escutam, como quem serve. Os fariseus e os escribas em vez de escutar querem confrontar, em vez da ternura incentivam a violência, em vez da vida sentenciam a morte. A parábola de domingo passado parece tornar-se realidade: os “irmãos mais velhos”, defensores de uma “justiça” sem misericórdia; a “irmã mais nova” exposta e humilhada pelo pecado; e Jesus “a fazer de Pai”, que não condena abrindo caminhos de vida, e interpela a consciência de todos. A lei de Moisés sentenciava à morte os dois apanhados em adultério (Lv 20, 10; Dt 22, 24), mas, mais uma vez era a “parte mais fraca” que era trazida a julgamento. Quantas mulheres continuaram a ser apedrejadas até à morte por este preceito iníquo e desumano? Em nome de que Deus e de que religião a morte de alguém pode considerar-se um acto de justiça? A acção libertadora de Jesus diante desta mulher foi guardada pelo evangelista João, mas como se concretizou em dois milénios de cristianismo, na vida e influência da Igreja na sociedade e nas mentalidades? No último século houve passos de gigante, consubstanciados até numa Declaração Universal dos Direitos Humanos, que abraça credos e culturas, mas como é ela aplicada na prática dos países e das mentalidades?
No diálogo com a mulher, Jesus abdica do “poder de Deus” em tirar a vida: Deus só “pode” dar a vida. E nela podemos reconhecer-nos todos nós, quando desperdiçamos a nossa e a vida de outros, quando nos encontramos em becos sem saída, quando tudo parece perdido; é aí mesmo que Jesus repete incessantemente: “Vai e não tornes a pecar!” Como gostava Jesus dizer tantas vezes este imperativo, “Vai” cheio de misericórdia e com sabor de ressurreição! Sem misericórdia não há vida, nem futuro, nem surpresa, nem gratidão. Os mais velhos, que se afastaram em silêncio, representam a religião que se instalou, a intransigência como critério, o passado como casa. Com Jesus, Deus faz “uma coisa nova”, “um caminho no deserto”, “rios na terra árida”, como anunciava Isaías. Por isso também somos implicados: entramos neste dinamismo de conversão, impulsionados para o futuro, com o coração a arder de um amor que dá vida, ou continuamos de pedras na mão para lançar ao primeiro que falhar?
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