O Papa visitou África, pela primeira vez, apelando à reconciliação, à paz e ao progresso, e no voo de regresso a Roma falou aos jornalistas. Francisco esteve na República Centro-Africana, no Uganda e no Quénia.
1. O Papa Francisco deseja que a sua recente visita a África, que decorreu de 25 a 30 de novembro, ajude os africanos a passarem para a margem da reconciliação, da paz e do progresso. “Na minha primeira Viagem Apostólica a África, tive a graça de visitar o Quénia, o Uganda e a República Centro-Africana. Sob o lema ‘Sede firmes na fé, não tenhais medo’, iniciei a minha visita ao Quénia, país em que bem se espelha o desafio global da nossa época: tutelar a criação através da reforma do modelo de desenvolvimento, para que seja justo, inclusivo e sustentável, fazendo tesouro das riquezas naturais e espirituais dos povos. Já no Uganda, por ocasião do cinquentenário da canonização dos seus mártires e sob a inspiração das palavras do Senhor ressuscitado “sereis minhas testemunhas”, quis unir-me a todos aqueles que não se cansam de dar um testemunho, animados pelo Espírito Santo: os catequistas, aqueles que se dedicam ao serviço da caridade, a juventude, os consagrados e sacerdotes. Por fim, na República Centro-Africana, tive a alegria de abrir, uma semana antes, a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia como sinal de esperança para aquele povo e para toda a África, que é convidada pelo Senhor a “passar a outra margem”: a margem da reconciliação, da paz e do progresso”, resumiu o Papa, na audiência-geral de quarta-feira, 2 de dezembro.
2. A bordo do avião que o levou de volta a Roma, após a visita a África, o Papa foi questionado sobre o Dia Mundial de Luta contra a Sida (1 de dezembro), tendo respondido que “é obrigatório curar”, mas afastando a ideia de que o preservativo possa ser a solução: “Não falemos se se pode usar um outro penso rápido para uma certa ferida, a grande ferida é a injustiça social. A exploração das pessoas, o trabalho escravo, a falta de água potável, é que são os problemas”.
Durante o voo, Francisco afirmou que o fundamentalismo é possível em todas as religiões e que é sempre idólatra e trágico, e sobre a cimeira de Paris – COP21 – onde os líderes mundiais discutem medidas para combater as alterações climáticas, disse ser “agora ou nunca!”.
3. Francisco já tinha surpreendido com a decisão – única na história dos jubileus – de não abrir a primeira Porta Santa na Basílica de São Pedro, mas na Catedral de Bangui. E foi exatamente na República Centro-Africana, última etapa da viagem africana, ao abrir esta Porta Santa, que o Papa proclamou Bangui – não a capital da violência e do ódio, nem a capital da miséria e do medo, dos milhares de refugiados e perseguidos, nem do milhão e meio de crianças desnutridas ou 10 mil meninos soldados – “a capital espiritual de oração e misericórdia”, pois “nesta terra sofredora também se incluem todas as pessoas do mundo que estão a passar pela cruz da guerra”. Pouco depois, na homilia da Missa, Francisco fez um veemente apelo “a todos os que usam injustamente as armas deste mundo”, pedindo que deponham “estes instrumentos de morte” e optem pelas armas “da justiça, do amor e da misericórdia, autênticas garantias de paz”. No final, dialogou com milhares de jovens, pedindo-lhes coragem para resistir e lutar pela paz e pelo bem.
E com a mesma intensidade com que, desde manhã e num só dia, discursou aos políticos, visitou um campo de refugiados, encontrou os bispos, falou aos evangélicos, visitou um hospital pediátrico e celebrou na catedral, ainda arranjou tempo para confessar alguns jovens, já noite cerrada, violando o recolher obrigatório que vigora nesta cidade.
4. O Uganda foi a segunda etapa da viagem apostólica a África. Francisco chegou na sexta‐feira, 27 de novembro, vindo do Quénia. A visita de 43 horas ficou marcada pela memória dos mártires cristãos do país africano. Francisco foi recebido pela elite política e pelo corpo diplomático acreditado no país, elogiando a forma como o Uganda acolhe os refugiados e deixando um recado à Europa. No mesmo local onde um rei ugandês decidiu eliminar o cristianismo, Francisco encorajou os professores e catequistas a serem testemunhas com a sua vida. No segundo dia, o Papa visitou os santuários dedicados aos mártires anglicanos e católicos do Uganda, nos arredores da capital do país. Celebrou Missa no local onde 22 jovens foram queimados vivos, em 1886, durante a perseguição anticristã lançada por Buganda Mwanga, recusando ser escravos sexuais do rei. O Papa encontrou‐se com jovens em Kampala e emocionou‐se com dois testemunhos de uma rapariga que nasceu com sida e de um rapaz perseguido por ser cristão. O Papa deixou palavras de esperança e incentivou‐os a transformar o ódio em amor. Francisco visitou também uma casa da caridade, onde alertou para o tráfico de seres humanos e a indiferença face à pobreza, e reuniu‐se com os bispos do Uganda.
5. O Papa Francisco iniciou no Quénia a viagem apostólica de seis dias ao continente africano. No aeroporto de Nairobi, Francisco foi recebido em clima de festa e, diante do presidente e das mais altas figuras do estado do Quénia, Francisco incentivou os quenianos a lutar contra as divisões sociais e disse que “a violência, os conflitos e o terrorismo” se alimentam “com o medo, a desconfiança e o desespero que nascem da pobreza e da frustração”. Francisco começou o seu segundo dia de visita com um encontro inter‐religioso em que falou do terrorismo e lembrou que o nome de Deus “nunca deve ser usado para justificar o ódio e a violência. Com demasiada frequência, os jovens tornam‐se extremistas em nome da religião”. O Papa celebrou Missa no Campus da Universidade de Nairobi, perante milhares de pessoas, renovand a defesa da família como motor da sociedade. Reuniu‐se com um grupo de padres, religiosos e religiosas em Saint Marys School onde, num discurso improvisado, sublinhou a importância do serviço e da humildade das pessoas que têm vocação religiosa. À tarde, o Papa visitou e discursou na sede do Programa Ambiental das Nações Unidas em Nairobi. No terceiro e último dia no Quénia, o Santo Padre começou por visitar o bairro de lata de Kangemi, em Nairobi. Francisco mergulhou no coração da pobreza e voltou a propor a consagração do direito efetivo aos ‘três T’s’: terra, teto e trabalho. De seguida, o Papa partiu para um encontro com jovens no Estádio Kasarani, onde falou de corrupção e admitiu que ela existe dentro do Vaticano: “É algo que se entranha em nós. É como o açúcar, é doce, nós gostamos, é fácil. E depois, de tanto açúcar fácil, acabamos por ficar diabéticos ou o nosso país fica diabético”.
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