Editorial |
P. Nuno Rosário Fernandes
Público ou privado?
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Com o evoluir dos tempos evoluiu também a tecnologia, e hoje é possível chegar onde antes era impensável. Se antes se transportavam mensagens por sinais, em mão, ou por fios, hoje é possível levar mais rapidamente e mais longe a voz, a imagem, a escrita, portadores de sentimentos, de estados de espírito, de desejos e vontades mais íntimas mas que tão facilmente se tornam públicas. Indiscretas e públicas.

Torna-se, por isso, necessário olhar para o modo como voluntariamente e conscientemente tornamos público o que, à partida, é de foro privado e os limites que se podem, ou não, ultrapassar.

Tenho por princípio que nem tudo é público e que, na vida de cada um, há um lado privado e íntimo que devemos preservar. Todos têm direito a isso! Mas nas redes sociais que proliferam, fenómeno deste século XXI, parece que fomos perdendo essa capacidade de discernir. Tudo se publica, tudo se diz, tudo se reflete, todos se tornaram escritores, poetas, músicos, psicólogos, médicos, advogados, padres, etc. Todos com qualificações para responder às necessidades e aos apelos que vão surgindo. Todos se tornaram críticos, fazedores de opinião, árbitros e até juízes capazes de julgar e de condenar. A partir de exemplos que, frequentemente, vão surgindo testemunhamos que as redes sociais se tornaram um poder capaz de movimentar, mobilizar, revoltar, unir, solidarizar, ajudar. Mas também percebemos que se deixou de refletir antes de publicar online qualquer pensamento, opinião ou simples desabafo. A capacidade de reação a qualquer estímulo tornou-se muito mais veloz mas também muito mais espontânea e tantas vezes sem pensar nas consequências que daí podem advir. Assim, se a ação e intervenção que os media podem exercer numa sociedade levou a que fossem considerados um 4º poder, hoje as redes sociais podem ser consideradas como o 5º poder em ação. Porém, este é possuidor de uma capacidade e força muito maior do que qualquer outro.

Nas redes sociais nascem movimentos, surgem conspirações, escondem-se perigos vários. O discernimento é, por isso, um meio essencial para o uso destes instrumentos de comunicação. E nós, na Igreja e em Igreja, devemos ser os primeiros a encontrar e promover esse discernimento, bem como o bom senso na sua utilização.

Em Roma está reunida a Assembleia Sinodal a quem o Papa Francisco se tem dirigido e apelado, inclusive, para que esta não se deixe condicionar, nos seus trabalhos, reduzindo o horizonte de toda a reflexão a um único problema: o da comunhão aos divorciados recasados ou não. Bem sabemos que são muitos mais os problemas que afetam as famílias nos dias de hoje, e o que está em causa é a reflexão sobre o lugar da família na Igreja e no mundo. Mas os media insistem, as pressões fazem-se sentir, e acredito que quem lá está dentro viva mesmo em tensão e precise de uma grande capacidade de abstração para ignorar o que a imprensa quer impor. Do interior da aula sinodal, pelo Twitter (rede social que permite enviar e receber mensagens de até 140 caracteres) de um sacerdote jesuíta, chegam cá fora citações de expressões pronunciadas pelo Santo Padre, com alguma força e cariz interpelativo e que a Sala de Imprensa da Santa Sé não terá revelado. Seria importante revelar? Seria do foro privado da Assembleia Sinodal? Entre várias interpelações do Santo Padre qual a mais importante? As perguntas e interpretações que daí se possam fazer são livres mas em pouco poderão contribuir para o andamento dos trabalhos.

 

P. Nuno Rosário Fernandes, diretor
p.nunorfernandes@patriarcado-lisboa.pt

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