É uma história invulgar. O jovem Bispo de Lichinga deixou-se encantar por Jesus apesar de ter nascido numa família muçulmana. Só foi baptizado aos 18 anos mas, já então, sonhava ser padre. Agora tem um enorme desafio à sua frente: ser construtor da paz em Moçambique quando os tambores da guerra parecem estar de regresso.
Atanásio Amisse Canira tem 52 anos e é Bispo de Lichinga desde o passado dia 22 de Março. Ainda está a conhecer os cantos da enorme diocese que lhe caiu em mãos. Enorme, com vinte e duas paróquias, algumas com mais de uma centena de localidades e pobre. Muito pobre. Tal como o país. D. Atanásio sabe que Moçambique vive dias incertos, como se os militares tivessem saudades dos tempos da guerra. A desconfiança foi reavivada entre Frelimo e Renamo e é preciso quem saiba fazer pontes. O Bispo de Lichinga é, ele próprio, um caso singular: é um cristão convertido. “Recebi o baptismo só aos 18 anos e nunca na vida tinha pensado em ser bispo. Ser padre, sim! Aliás, antes de ser baptizado já desejava ser sacerdote...” E foi com a ajuda das Irmãs do mosteiro Mater Dei, em Nampula, perto de Mossuril, onde nasceu a 2 de Maio de 1962, que o jovem Atanásio teve as primeiras aulas de catequese. “Nunca imaginei um dia vir a ser bispo. Foi uma grande surpresa que considero também uma missão e um grande desafio. É uma graça de Deus que me confiou uma missão tão grande”…
Fazer pontes
Em Lichinga praticamente não há estradas asfaltadas. São todas em terra batida. “As viagens são custosas, mas o povo precisa e quer estar presente ao lado do bispo e do padre. Mas a distância e os meios não favorecem.” A Diocese de Lichinga tem uma forte presença muçulmana, principalmente a norte. Por ali não há problemas entre religiões nem episódios de tensão entre comunidades. No entanto, o facto de o Bispo ser oriundo de uma família muçulmana ajuda a fazer pontes e é exemplo para os lugares e os países onde a religião tem sido o carburante que mais tem ateado conflitos. “Sinto-me à-vontade com os Muçulmanos. Os meus pais já morreram mas tenho ainda alguns primos e tios muçulmanos e convivo bem com a toda a família. Eles recebem-me como cristão e como bispo.” Pior mesmo é a desconfiança entre Renamo e Frelimo. Os sangrentos ataques contra a comitiva do líder da Renamo, nas últimas semanas, fizeram soar as campainhas de alarme. Há muito que a Igreja denuncia um clima de desconfiança muito grande que pode degenerar numa guerra que, na verdade, ninguém deseja. “Nós já celebrámos mais de vinte anos do fim da guerra civil, mas é verdade que há sinais negativos que ameaçam a paz. O facto de ter havido esses ataques, é sinal de que a paz está ameaçada. A Igreja aposta no diálogo pela paz. O povo não quer guerra. Com guerra não há desenvolvimento. Só há desenvolvimento quando o povo estiver em paz, circular em paz, trabalhar em paz, viver em paz.”
O milagre de Irene
Atanásio, que sonhava apenas ser padre, foi ordenado bispo este ano no dia 22 de Março. Praticamente no mesmo dia, a 23, mas dois meses mais tarde, decorreu a cerimónia de beatificação da missionária da Consolata, Irene Stefani. A história dos dois cruzou-se de forma extraordinária. A ele entregaram a Diocese de Lichinga. Ela foi a responsável por um milagre que salvou dezenas de pessoas. Regressemos à guerra civil, ao ano de 1989. Dia 10 de Janeiro. Um comando da Renamo ataca a aldeia de Nipepe, situada em Lichinga. Muitas pessoas fogem e refugiam-se na igreja local. São seguramente muitas dezenas. Talvez duas centenas. Apesar das balas, dos obuses, o templo não é beliscado. Mas ninguém se atreve a sair. O pároco, o Padre Frizzi, reza à Irmã Stefani e todos pedem a intercessão desta religiosa italiana. Então, dá-se o milagre que levou agora esta religiosa até aos altares. Havia alguma água, quase nada, na pia baptismal. Todas aquelas pessoas ficaram ali fechadas, cheias de medo, entre os dias 10 e 13 de Janeiro. E durante todo aquele tempo, durante todas aquelas horas, ninguém teve sede. A pia baptismal nunca secou. Foi o milagre da multiplicação da água.
Impressionante
O Bispo já lá esteve e celebrou uma Missa de Acção de Graças, a 28 de Junho, por causa deste milagre. “Testemunho que aconteceu. A Irmã já foi beatificada e já foi declarada como beata. O milagre aconteceu na Diocese de Lichinga, na Paróquia de Nipepe. Foi uma coisa impressionante. O próprio povo de Lichinga ficou motivado e este foi um acontecimento que acelerou a fé das pessoas”, diz D. Atanásio. “Como Bispo, já declarei aquela igreja como lugar de veneração e de peregrinação da diocese, de modo que a Beata Irene interceda pela Diocese de Lichinga e pela paz em Moçambique.”
Promover a vida do povo Moçambicano, ser agente de paz, é o sonho de D. Atanásio. A Igreja em Lichinga é muito pobre. Eles precisam da nossa ajuda. Da sua ajuda. “Como Bispo de Lichinga quero dizer, de viva voz e do fundo do meu coração, o meu muito obrigado aos benfeitores portugueses da Fundação AIS garantindo-lhes a minha oração, para que Deus os abençoe a todos, pois é através da ajuda deles que a Igreja de Moçambique consegue sobreviver.” Palavra de um Bispo que nasceu muçulmano e que se enamorou por Jesus Cristo.
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