Domingo |
À procura da Palavra
A pergunta decisiva
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DOMINGO XXIV COMUM Ano B

"Jesus então perguntou-lhes:

«E vós, quem dizeis que Eu sou?».”

Mc 8, 29

 

Em todo o conhecimento há perguntas decisivas. São elas que promovem o avanço, a descoberta, e a inovação humanas. Daí que o verdadeiro ensino não seja um “despejar de informação” mas a arte de suscitar e promover perguntas. E que pena termos perdido, tantas vezes, aquele questionamento de criança que não se cansava de perguntar: “e porquê?”, “e como?”, “e para quê?”. É verdade que também há perguntas que nem resposta merecem (e basta ouvir as de jornalistas àvidos em obter reacções aos dramas e catástrofes quase quotidianos), mas uma sociedade que não valoriza a arte de perguntar gera autómatos ou indiferentes.

Quantas vezes, relativamente à fé e à religião, se adoptou também o conformismo de “verdades inquestionáveis”, relegando a inteligência e a dúvida para um canto do pensamento ou até rotulando de “pecado” qualquer questão que pusesse em causa a “harmonia da doutrina”! Cantava o P. Zézinho, numa canção sobre um amigo seu “que a sua fé perdeu”, que “às vezes quem duvida e faz perguntas, é muito mais honesto do que eu!” Mas as perguntas supõem pessoas dispostas a dialogar, a debater ideias com respeito e humilde procura da verdade, a acolher pontos de vista sem os impôr arbitrariamente, a rejeitar preconceitos e valorizar o essencial, a exprimirem-se sem medo nem temor de condenação.

Depois de uma breve “sondagem” sobre o que se dizia d’Ele, Jesus faz aos discípulos a pergunta decisiva: “Quem dizeis que Eu sou?” É tão decisiva que ela divide os evangelhos sinópticos em duas partes: o ensino na Galileia e o caminho para Jerusalém. A partir da resposta de fé de Pedro, Jesus começa a anunciar a sua entrega de vida que culminará na Páscoa. E surge o primeiro paradoxo: não era bem esse tipo de “Messias” que se esperava, e o próprio Pedro se apressa a corrigir Jesus. Mas o desafio foi lançado: é preciso “compreender as coisas de Deus”, renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz e seguir Jesus. Quantas perguntas irão surgindo no pensamento dos discípulos ao longo do caminho? Deste caminho que continuamos a fazer, percebendo que não basta dizer “creio em Ti”, mas é fundamental viver “contigo e como Tu”, dando a vida para salvar, perguntando-nos se ainda não persistem ideias do antigo messianismo de poder e esplendor, de domínio e condenação na nossa vida de discípulos? Que felicidade comunicamos por acreditar na força do Teu amor? 

Quantas perguntas decisivas são feitas na história de um amor? A resposta à pergunta “quem sou eu para ti?” abre sempre algum futuro. Mas também pode pôr em causa um passado. A coragem de perguntar se o que une duas pessoas é um amor verdadeiro, que constrói e faz crescer, ou se essa união acabou, ou nem chegou a começar, não é fácil. Concretizando a misericórdia, que será o tema do novo ano santo que começa a 8 de dezembro, o Papa Francisco acaba de publicar dois documentos que simplificam os processos de nulidade matrimonial e reforçam o papel dos bispos. A sua intenção é “favorecer não a nulidade dos matrimónios, mas a celeridade dos processos”. Outras perguntas virão: tenhamos a coragem de as colocar a Jesus, com Jesus e uns com os outros!

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