A guerra na Síria está mais encarniçada do que nunca. Em Agosto, os ataques dos jihadistas tomaram um novo alento. Nem a capital já escapa. Mosteiros bombardeados, aldeias ocupadas, milhares de pessoas em fuga. Os Cristãos da Síria voltam-se agora para Nossa Senhora de Fátima, a quem pedem as nossas orações. É a última esperança para a paz.
O Patriarca Gregório III, que esteve em Portugal no ano passado a convite da Fundação AIS, afirma que não tem medo de morrer. Os seus 81 anos de idade dão-lhe uma serenidade que se estranha numa terra onde o silvo dos obuses e o crepitar das metralhadoras fazem parte já do quotidiano. Apesar de tudo, ninguém se habitua à guerra. O Patriarca Gregório diz que não tem medo de morrer e é comum vê-lo a caminhar, sozinho, pelas ruas de Damasco, visitando famílias, confortando pessoas enlutadas, dando o conforto possível a quem se sente numa cidade sitiada, sem fuga possível. Ainda em Agosto, no domingo dia 23, uma chuva de morteiros provenientes das áreas controladas pelas milícias destruíram parcialmente duas igrejas. Só nesse ataque morreram nove pessoas e mais de meia centena tiveram de receber tratamento hospitalar. Numa carta enviada à Fundação AIS, poucas horas depois, o Arcebispo maronita Samir Nassar disse que os Sírios vivem, nos dias de hoje, “numa espécie de roleta russa”. Ninguém sabe quando chegará a sua vez.
Morrer em Aleppo
A 365 quilómetros a norte de Damasco fica a cidade de Aleppo. Antes da guerra, a viagem demorava cerca de 4 horas. Agora ninguém arrisca fazer-se à estrada. Seria puro suicídio. Aleppo é hoje uma cidade mártir. Estes quatro anos de guerra destruíram ruas e prédios. Há marcas de tiros em todo o lado. A devastação é enorme. Os que não morreram ou não conseguiram fugir vivem agora quase como fantasmas. Falta tudo. A começar pela água. Todos os dias, homens, mulheres e crianças deambulam pelas ruas atulhadas de destroços à procura de um pouco de água para beber. A luta pela sobrevivência atingiu uma dimensão assustadora. Samaan Daoud, era um orgulhoso guia turístico em Alleppo. Agora, com a cidade moribunda, decidiu ajudar a Igreja local num programa de auxílio às populações civis. Na verdade, nesta guerra vale tudo: até usar a distribuição da água como objectivo militar. Nesta guerra ninguém tem as mãos limpas. Boicotado o sistema de canalização, resta às populações recorrer aos poços que existem nos terrenos adjacentes a algumas igrejas para se abastecerem de água. Samaan conduz agora um pequeno carro, que transporta uns bidons de água e tenta levá-la junto dos mais velhos, dos que estão doentes, dos que estão encurralados no que resta das suas casas.
Ataques químicos
A região de Aleppo está a ser martirizada todos os dias. No final de Agosto, os Médicos Sem Fronteira denunciaram que os jihadistas do auto-proclamado “Estado Islâmico” usaram armas químicas num ataque contra uma aldeia. Tudo vale para semear o terror. Dias antes desse ataque, o mundo ficou horrorizado com a publicação de fotos, na Internet, de mulheres cristãs que exibiam cartazes com os respectivos nomes e a data em que a foto teria sido tirada: 27 de Junho. São três mulheres, duas delas estão com os filhos. Todas foram capturadas pelos jihadistas. Se ninguém pagar o resgate exigido pela sua libertação, serão vendidas como escravas sexuais num mercado local. Noutro vídeo, também colocado na Internet, dois homens apelam à comunidade internacional pela sua libertação. Aparentemente farão parte do grupo dos cerca de 200 cristãos assírios raptados em Fevereiro pelo “Estado Islâmico”. Na segunda semana de Agosto, 230 aldeões que viviam em al-Qaryatain, uma povoação no nordeste da Síria, foram também raptados. Destes, mais de 60 são cristãos.
Rezar pela paz
O Padre Ibrahim Sabbagh está em Aleppo. O seu convento franciscano fica a apenas uns meros 50 metros da área controlada pelos jihadistas. Nesta cidade, como em todo o país, luta-se rua a rua, bairro a bairro, casa a casa. Ele também está empenhado no fornecimento de água às populações. É praticamente tudo o que pode fazer. “Vivemos no caos. Os bombardeamentos semeiam o medo e o terror. Ninguém é poupado. Nem mesmo crianças ou idosos, nem igrejas ou mesquitas. É impossível comer carne ou beber leite. As pessoas não aguentam mais.” A vida na Síria tornou-se impossível. Resta a oração. No início de Agosto, o Patriarca melquita greco-católico Gregório III pediu expressamente ao Santuário de Fátima a imagem Peregrina de Nossa Senhora para ser levada a Damasco para que os Sírios pudessem implorar à Senhora do Céu o fim da guerra. Rezar pela paz é o que resta nestes dias de apocalipse. A deslocação da imagem estava prevista para os dias 7, 8 e 9 de Setembro. Tudo estava preparado até que chegou um telefonema urgente a cancelar a deslocação. A evolução da guerra agravou-se de tal forma que já não é possível garantir a segurança. Até a imagem de Nossa Senhora de Fátima está ameaçada pela guerra na Síria. Os cristãos estão encurralados. Não têm como fugir. Só lhes resta rezar e esperar. Os Portugueses não podem ficar indiferentes a este drama. Vamos confiar à Virgem de Fátima as nossas orações pelo povo sírio. Foi para pedir as nossas orações pela paz que Nossa Senhora apareceu aos pastorinhos em 1917. Quase um século depois, temos o dever de obedecer a essas palavras.
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