DOMINGO XVI COMUM Ano B
"Viu uma grande multidão
e compadeceu-Se de toda aquela gente.”
Mc 6, 34
Durou apenas uma breve travessia do lago, o descanso que Jesus quis dar aos discípulos. Como brilhavam os olhos deles pela alegria da missão, e como os deve ter olhado Jesus com ternura e encanto! Por isso, aquele pequeno trajecto, a troca de olhares e de palavras, teve o sabor de uma enorme viagem. Uma daquelas viagens em que os olhos abraçam tudo o que encontram, e se espantam e encantam. À maneira das palavras que Miguel Sousa Tavares lembra ter a sua mãe dito, a poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen, na Piazza Navona, em Roma, diante da sua impaciência em ir a todo o lado: “Miguel, viajar é olhar!” Não se vai a lugar nenhum sem disponibilidade para olhar.
Na epígrafe do romance “Ensaio sobre a cegueira”, José Saramago cita o Livro dos Conselhos de El-Rei D. Duarte: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.” “Janelas da alma”, ”intérprete do coração”, nos olhos de cada um se reflecte o mundo e se vislumbra o invisível. “Quis Deus que a única coisa que não se pode disfarçar seja o olhar do homem”, escreveu Alexandre Dumas. E até ouvi contar, que quem inventou os óculos escuros, foram os comerciantes orientais, para disfarçar o aumentar das pupilas, que sugerem o grande interesse por algo que desejamos! Não consigo imaginar a dor de não ver, mas assustam-me os avisos sérios que são feitos ao aumento da cegueira e da miopia entre os mais novos, pelo excessivo tempo que passam diante de écrans, ou fechados em casa.
Quantas vezes dou comigo a imaginar o olhar de Jesus! A profundidade e a simplicidade que devia emanar dos seus olhos, o riso e o brilho que cativavam quem neles mergulhava, devia ser indescritível. E lembro uma canção de Vinicius de Moraes: “quando a luz dos olhos meus e a luz dos olhos teus resolvem se encontrar…”, porque não há encontro mais luminoso que este. Nos seus olhos vejo o encanto de Deus a criar e a “ver” que era tudo muito bom; os olhos atentos ao sofrimento de Isarel no Egipto e a decisão de escolher Moisés para libertar o povo; a visão que “não olha a aparência mas vê com o coração” quando escolhe o rei David; a ternura com que visita Maria e “olha para a humilde serva”. E vejo os apóstolos e a mulheres que vai escolhendo, Marta, Maria e Lázaro, Zaqueu e o jovem rico, as crianças e a mulher adúltera, Pedro e Judas, e as multidões sem pastor. O olhar de Jesus não deixa nada na mesma: ilumina, abençoa, salva, compromete. É esse olhar que Ele coloca nos nossos olhos, e que, tantas vezes, descuramos em estrabismos e miopias, cataratas e presbiopias, voluntárias ou de desleixo! O que precisamos para olhar e ver como Ele?
É claro que Jesus é o “bom oftalmologista”, e o Espírito Santo o melhor remédio. Mas há pequenas grandes coisas que ajudam à prevenção das nossas cegueiras: menos discursos e mais vida; menos juízos e mais perdão; menos indiferença e mais entreajuda; menos escuridão e mais sol; menos tristeza e mais jovialidade; menos “sacristia” e mais “praça”; menos isolamento e mais partilha; menos “óculos escuros” e mais “olhos nos olhos”! Que bom vermo-nos!
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