Domingo |
À procura da Palavra
“Quanto menos, tanto mais!”
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DOMINGO XV COMUM  Ano B

"Ordenou-lhes que nada levassem para o caminho,

a não ser o bastão.”

Mc 6, 9

 

O calor destes dias de verão parece um convite a procurar mais frescura fora dos ambientes e ritmos habituais. A beira de um rio ou do mar, uma sombra com aragem, um olhar repousado sobre a paisagem, a companhia de outros sem pressas…tudo parece melhor que estes ritmos gastos! E até Jesus vem ao nosso encontro no evangelho ao enviar os discípulos dois a dois, completamente despojados e confiantes em quem os acolherá. Não é bem um convite para férias, mas há uma ideia comum no desprendimento para a missão, que lembra os que se lançam à estrada de mochila às costas, motivados por uma meta ou pela simples viagem. Como seria bom fazer férias da muita “tralha” e dos hábitos “caseiros” e confiar na surpresa e na graça do pouco que é necessário para viver bem.

Nas breves palavras de Jesus reconhecemos a conversão que precisamos fazer. Se a missão significa ir para fora (dos meus círculos, dos meus condomínios, das minhas seguranças!), é preciso levar pouco, ou mesmo nada, do que julgamos imprescindível. E como iremos sobreviver sem tudo isso? Às vezes precisávamos de uma experiência de “Survivor” (programa televisivo que testa os concorrentes em situações de sobrevivência), um “survivor da fé”, para desinstalar-nos desta vida de “cristãos q.b”!

A maneira de enviar os seus discípulos mostra-nos como Jesus vê a missão: em caminho (de bastão e sandálias para não ganharmos pantufas!), sem demasiadas preocupações com o próprio bem-estar (sem pão, nem alforge, nem dinheiro, para não temer ladrões nem gastar tempo em contabilidades!), vestidos como os pobres (sem distinções nem mala de viagem, para serem um entre os outros!). Dizia S. João Paulo II na carta “Redemptoris missio”: “O testemunho evangélico, a que o mundo é mais sensível, é o da atenção às pessoas e o da caridade a favor dos pobres, dos mais pequenos, e dos que sofrem” (n.42). E ainda: “A Igreja é chamada a dar o seu testemunho por Cristo, assumindo posições corajosas e proféticas, face à corrupção do poder político ou económico; não correndo ela própria atrás da glória e dos bens materiais; usando os seus bens para o serviço dos mais pobres e imitando a simplicidade da vida de Cristo” (n. 43). Caminhos para andar não nos faltam!

E é a “estrada para andar” que canta Jorge Palma na música “A gente vai continuar”. Nesse poema interpela-nos: “Somos todos escravos do que precisamos / Reduz as necessidades se queres passar bem / Que a dependência é uma besta / que dá cabo do desejo […]”. E imagino que o Papa Francisco poderia tê-lo ouvido pois diz assim na encíclica “Laudato sí”ao convidar a adotar o antigo ensinamento “ ‘quanto menos, tanto mais.’ Com efeito, a acumulação constante de possibilidades para consumir distrai o coração e impede de dar o devido apreço a cada coisa e a cada momento. […] Isto exige evitar a dinâmica do domínio e da mera acumulação de prezeres” (n. 222). Como vamos continuar? E o que é que não vai parar?

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