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DOMINGO V DA QUARESMA Ano B
“Quando Eu for elevado da terra,
atrairei todos a Mim.”
Jo 12, 33


Uma das devoções quaresmais é a via sacra. Das mais tradicionais às mais elaboradas, muitas com fundamentos bíblicos, os passos sofredores de Jesus encontram reflexo nos sofrimentos actuais. E dei-me a imaginar as estações das vias sacras de desempregados e de doentes, de pais e de filhos, de professores e de enfermeiros, e de tantos, tantos…! No fundo, de quem sobe a calvários que evitáveis, e toma cruzes que podiam não existir. E se o caminho de Jesus significa o “amor até ao fim” que o Pai nos oferece, muitas vias humanas não são sacras porque estão cheias de sofrimento evitável, de orgulho e egoísmo estéril, de indiferença e injustiça. Na via sacra de Jesus é possível aprender a não criar muitos sofrimentos!

Os extremos, infelizmente, são muito frequentes. Tanto se propaga um dolorismo que azeda a vida, como se busca uma vida de facilidade na fuga de todo o sofrimento. O grão de trigo que tem de morrer no silêncio da terra lembra-nos o trabalho e o sofrimento necessários para que haja mais vida e mais frutos. É o esforço e a coragem de levar ao máximo os dons de vida que possuímos que contraria todo o facilitismo que nunca ajuda a crescer. Mas isso não significa inventar ou manter situações de sofrimento que só geram revolta, porque não têm em vista o maior bem de todos, e são impostas de fora. Pois o dom que gera vida é amor, é doação livre e interior, que rompe a casca do individualismo e da autosuficiência, e isto faz-me pensar em Santa Teresa de Jesus que dizia: “Amar é dar tudo e dar-se a si mesmo”!

A cruz tem a força matemática da adição. É o “mais” que o ser humano procura, e tantas vezes julga encontrar no acumular egoísta de coisas, que acabam por atrapalhar a sua capacidade de doação. É o “mais” que fazemos quando abrimos os braços a alguém, e também o “xis” (que multiplica; e também a cruz em “xis” foi usada como instrumento de martírio!) quando elevamos os braços e abrimos as pernas, à maneira do “homem vitruviano” desenhado por Leonardo Da Vinci. A atracção de que Jesus fala não é pela cruz mas pelo Crucificado! Aos gregos do Evangelho deste Domingo que queriam “ver Jesus” (quer dizer, queriam conhecê-l’O!), e a nós, que dois mil anos depois O seguimos e amamos, Jesus apresenta-se como o Ressuscitado que foi Crucificado. Não é a propagação de cruzes que significa crescimento do cristianismo (infelizmente, em nome de Jesus e das ideias de muitas épocas, continuaram a ser lugar de suplício!) mas a vida entregue, em cada dia, por um mundo mais fraterno e humano, que homens e mulheres cheios do amor de Cristo continuam a dar.

Não é a cruz que salva mas o amor que nela foi e é crucificado. Não nos especializemos em fazer cruzes, mas em viver do amor até ao fim, que é o de Jesus. Nas coisas simples e profundas de cada dia, na atenção ao essencial, no esforço e no trabalho que elevam, na dedicação e não na burocracia. Onde existem cruzes que merecem receber o amor que atrai!

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