DOMINGO V COMUM Ano B
"De manhã, muito cedo, levantou-Se e saiu.”
Mc 1, 35
O extraordinário tem um peso excessivo na nossa vida. Vemos a sede de novidades no afã de comunicar, o ritmo eléctrico de crianças e adolescentes com o desejo de novos jogos e distrações, o desejo do fim de semana e das noites de que não é preciso levantar cedo, a necessidade de algo novo todos os dias. E não se trata de descobrir o que pode ser novo em cada momento; parece que é preciso inventar e criar um estado de “extraordinariedade” de muitas coisas, para que a vida esteja em contínuo pulsar, em contínuo estímulo, como se o normal ritmo de cada dia, o que é necessário fazer, o que é quotidiano, fosse uma espécie de morte! Cumprir ritmos, trabalhar como condição para desenvolver competências e assumir responsabilidades, ter regras e ser organizado, fazer bem o que nos comprometemos, parece uma chatice ou uma “morte lenta”. Quem não gostava de ser herói de um momento para o outro, ou santo num arrojo de coragem, de enriquecer com os cinco números e duas estrelas do euromilhões, ou de salvar uma donzela em perigo e derrotar o dragão que a aprisionava?
O quotidiano é o lugar da aprendizagem da felicidade. É o dia a dia feito de aprendizagens e partilhas, de fidelidade e erros, de muito trabalho e alguma criatividade, de regras e ritmos, de projectos e adaptações, de comer, e lavar, e dormir, e recomeçar, que é mesmo importante. O “Sempre-em-festa” é uma irrealidade, e uma desumanidade, porque o que se festeja sempre é a vida simples e comum que nos fez chegar àquele momento. Assim, os amores gastam-se, os trabalhos escravizam, as crianças e adolescentes andam sem rumo, os pais anseiam por ser os melhores amigos dos filhos, a educação burocratiza-se em relatórios e metas, e todos mergulhamos nas redes em busca de novidades. E até fazendo de nós a novidade que faltava!
O primeiro capítulo do evangelho de Marcos que andamos a ler, apresenta-nos a grande opção pastoral de Jesus: entrar na vida dos homens pela porta do quotidiano. Chamou os discípulos no local de trabalho, foi à sinagoga rezar e falar do Pai e fez a primeira cura, entrou na casa de Pedro e André e, estando doente a sogra, curou-a, assim como muitos enfermos que vieram até ele, dormiu, levantou-se cedo para rezar, e partiu para outras aldeias. Mesmo com as curas, que exprimem espectacularmente a sua missão libertadora e lhe granjeiam imediata fama, Jesus escolhe estar com as pessoas na familiaridade e na amizade. Desloca a felicidade dos grandes acontecimentos para a simplicidade do dia a dia. Valoriza os ritmos humanos e anuncia o reino através deles. Escolhe até estar com o Pai no silêncio da noite, para um diálogo tão humano e tão possível de ser feito por todos nós. É admirável a santidade e a grandeza dos feitos extraordinários, mas o que faz crescer o mundo é a coragem de viver autênticamente o quotidiano, de realizar o melhor possível a tarefa mais insignificante, de encontrar Deus no metro e no jardim, ao balcão ou num andaime. Pois é no habitual e no ordinário (no sentido próprio de comum) que Deus e nós mais nos encontramos!
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