DOMINGO III COMUM Ano B
“Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens.”
Mc 1, 17
Envolvidos nos temas e acontecimentos do terrorismo, que os atentados em França espalharam pela Europa, também por mim passou muito distante a visita do Papa Francisco ao Sri Lanka e às Filipinas. Tirando a notícia da “maior missa” da história com seis milhões de fiéis em Manila, o seu regresso apressado devido a um furacão, e as afirmações no avião de que para ser bons católicos não temos de ser “como coelhos”, de pouco mais me apercebi. Foi num site espanhol que vi o abraço que lhe deu uma menina filipina de 12 anos, Glyzelle Palomar, que viveu na rua e, com outro menino, testemunhavam o sofrimento das suas vidas até serem recolhidos por uma ONG que o Papa tinha visitado de surpresa. Antes do abraço ela tinha perguntado a Francisco: “Há muitas crianças abandonadas pelos próprios pais, muitas vítimas de muitas coisas terríveis como as drogas e a prostituição. Porque é que Deus permite estas coisas, já que as crianças não têm culpa? Porque vem tão pouca gente ajudar?”
O Papa deixou de lado o discurso e improvisou: “Ela hoje fez a única pergunta que não tem resposta, e como não lhe chegavam as palavras teve de fazê-la com as lágrimas. […] Quando nos perguntarem porque sofrem as crianças (…) que a nossa resposta seja o silêncio e as palavras que nascem das lágrimas. […] Ao mundo de hoje faz-lhe falta chorar, choram os marginalizados, choram os que são deixados de lado, choram os desprezados, mas aqueles que temos uma vida mais ou menos sem necessidade não sabemos chorar. […] Certas realidades da vida só se veem com os olhos lavados pelas lágrimas.” Não era um convite a sermos “choramingas” nem a enchermo-no de uma pena que não faz nada. Pelo contrário, são palavras que pedem coração, que incomodam preconceitos e egoísmos, que falam de paternidade responsável e amor à vida, que responsabilizam a grandeza de ser pai e ser mãe (pois não se trata de gerar filhos e esperar depois que a escola e a sociedade os eduquem!), que reclamam dos governos verdadeiras opções de apoio a pais e filhos, que pedem uma limpeza geral dos olhos, da mente, do coração, das palavras e das acções. Talvez seja preciso, como disse Francisco, começar por “aprender a chorar!”
Quando Jesus chamou os primeiros discípulos, junto ao lago onde pescavam e remendavam as redes, pouco devem ter percebido daquele convite. Sentiram a estranheza de virem a ser “pescadores de homens”, ou perceberam a subtileza de Jesus em chamar, ao trabalho de salvação e libertação da humanidade, uma “pescaria”? Pois os homens não são peixes, mas se o mar era símbolo do mal e da morte (e de tudo o que a eles conduz pelas escolhas egoístas e injustas de cada um de nós), seguir Jesus significava não ficar simplesmente a “chorar” por quem morria afogado ou ia morrendo numa vida desumanizada. Mas, com Ele, salvar todos que pudessem! Ah, então que ficassem ali aqueles barcos e aquelas redes, porque a empresa era aliciante, e se Jesus ia à frente deles, é porque sabia como realizar esse milagre! Mas o que encanta é que Jesus começou por escolher homens habituados à incerteza das pescarias e ao perigo das ondas, fortes e ousados mas também frágeis e dependentes. Capazes de “chorar” pelos erros ou por compaixão, e de tudo arriscar por amor. Capazes de entender que o milagre de “pescar a humanidade” só é possível com a compaixão de Jesus, com as lágrimas que lavam o olhar, para ver melhor os outros e fazer algo: por eles e com eles!
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