29.06.2014
Papa |
A uma janela de Roma
“Ninguém se torna cristão por si mesmo”
Palavras fortes do Papa sobre a Igreja. Na semana em que falou de tortura, Francisco condenou o crime organizado, renovou a sua condenação às perseguições religiosas e recebeu responsáveis de 129 países na luta contra o narcotráfico.
1. “Não estamos isolados, nem somos cristãos por conta própria. Quando afirmamos que somos cristãos estamos a dizer que pertencemos à Igreja”. Durante a audiência-geral de quarta-feira, dia 25 de junho, o Papa Francisco prosseguiu a catequese sobre a Igreja. “A nossa identidade é pertença. Se acreditamos, se sabemos rezar, se conhecemos o Senhor e O reconhecemos nos nossos irmãos é porque outros, antes de nós, viveram a fé e no-la transmitiram e ensinaram”, afirmou o Papa. “Ninguém se torna cristão por si mesmo. A Igreja é uma grande família na qual uma pessoa é acolhida e aprende a viver como crente, como discípulo de Jesus”, acrescentou.
Segundo o Papa Francisco, por vezes, ouve-se dizer: “‘Eu creio em Deus, creio em Jesus, mas a Igreja não me interessa…’. Estas pessoas creem que podem ter uma relação pessoal, direta, imediata com Jesus Cristo, fora da comunhão e da mediação da Igreja. Não se pode amar a Deus sem amar os irmãos, não se pode estar em comunhão com Deus sem estar em comunhão com a Igreja e só podemos ser bons cristãos unidos a todos aqueles que procuram seguir Jesus, formando um só povo, um único corpo. E isto significa pertencer à Igreja”.
2. O Papa Francisco uniu-se no passado Domingo, 22 de junho, à jornada da ONU pelas vítimas da tortura, que se assinala anualmente no dia 26 de junho, apelando ao compromisso dos cristãos na luta contra um pecado “muito grave”. “Reafirmo a condenação firme de todas as formas de tortura e convido os cristãos a comprometerem-se e colaborar para a sua abolição e apoiar as vítimas e os seus familiares”, declarou, após a recitação da oração do Angelus. “Torturar as pessoas é um pecado mortal, é um pecado muito grave”, acrescentou.
O encontro dominical decorreu perante dezenas de milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro, tendo sido iniciado com uma catequese de Francisco sobre o Corpo de Deus, solenidade litúrgica assinalada nesse dia em vários países, incluindo Portugal. “A medida do amor de Deus é amar sem medida”, disse o Papa, sublinhando que “a Eucaristia faz amadurecer um estilo de vida cristão”. Este estilo, precisou, é marcado pela “docilidade à Palavra de Deus”, a “fraternidade” entre as pessoas, a “coragem do testemunho cristão”, a “fantasia da caridade”, a “capacidade de dar esperança” aos outros e de “acolher os excluídos”. “A nossa vida, com o amor de Jesus, recebendo a Eucaristia, faz-se um dom”, declarou. Segundo Francisco, este é um amor que se estende a todos, mesmo às pessoas que não o retribuem. “Não é fácil amar quem não nos ama, não é fácil”, realçou. O Papa declarou ainda que “a caridade de Cristo, acolhida com o coração aberto”, transforma as pessoas e torna-as capazes de amar “segundo a medida de Deus”, isto é, “sem medida”.
3. O Papa condenou no sábado, 21 de junho, o crime organizado e disse que os mafiosos "estão excomungados". Francisco falava durante uma visita à Calábria, no Sul de Itália. Na missa celebrada na planície de Sibari, a 15 quilómetros da cidade de Cossano, o Papa disse que é preciso travar a máfia local, conhecida por ‘Ndrangheta’. “A família ‘Ndrangheta’ significa o culto do mal e do desprezo pelo bem comum. Esse mal deve ser combatido, deve ser removido. É preciso dizer não. A Igreja deve gastar-se cada vez mais para que o bem possa prevalecer. Pedem-no as nossas crianças, pedem-no os nossos jovens carecidos de esperança”, declarou Francisco. Perante milhares de pessoas, o Papa advertiu que “aqueles que na sua vida seguem este caminho do mal, como fazem os mafiosos, não estão em comunhão com Deus. Estão excomungados”.
Antes o Papa Francisco tinha visitado 200 reclusos de uma prisão do Sul de Itália, pedindo-lhes que “transformassem a sua vida” durante o período de detenção. No estabelecimento prisional de Castrillari, o Papa sublinhou que o cumprimento da pena de prisão deve ser acompanhado de um compromisso com “instituições de reinserção” caso contrário reduz-se a uma “punição prejudicial”.
4. O Papa Francisco renovou a sua condenação às perseguições religiosas que afetam os cristãos em todo o mundo, numa dimensão “talvez mais forte” do que nos primeiros séculos da Igreja. “É para mim um motivo de grande dor constatar que os cristãos sofrem o maior número dessas discriminações”, disse, esta sexta-feira, perante cerca de 200 participantes num congresso internacional sobre Liberdade Religiosa. Segundo o Papa, há hoje “mais cristãos mártires” do que no tempo do Império Romano, algo que acontece 1700 anos após o Edito de Constantino, que concedia a liberdade de professar publicamente a sua religião.
Francisco afirmou que as atuais perseguições religiosas “atentam contra a paz e humilham a dignidade das pessoas”. “À luz da razão, confirmada e melhorada, e do progresso civil dos povos, é incompreensível e preocupante que, até hoje, no mundo, permaneçam discriminações e restrições de direitos pelo simples facto de alguém pertencer e professar publicamente uma determinada fé. É inaceitável que ainda existam verdadeiras perseguições por motivos de religião”, salientou.
5. O Papa Francisco afirmou que “a droga não se vence com a droga”. Ao receber, dia 20, no Vaticano, responsáveis de 129 países na luta contra o narcotráfico, o Papa afirmou que o problema da toxicodependência exige outro tipo de soluções. “O flagelo da droga assume dimensões impressionantes e é alimentado por um mercado vergonhoso que extravasa fronteiras nacionais e continentais e continua a pôr em risco adolescentes e jovens”.
Francisco sublinhou que a droga é um mal e com o mal não pode haver cedência. O Papa disse ainda que a legalização das chamadas “drogas leves”, além de a medida ser discutível do ponto de vista legislativo, não produz os efeitos que se esperava, nem é uma terapia suficiente, mas sim um modo velado de se render ao fenómeno. Preocupado com a falta de horizonte e esperança de tantos adolescentes e jovens contemporâneos, o Papa Francisco pede mais políticas antidroga, para que as ações relacionadas com o narcotráfico deixem de influenciar os mercados e, por outro lado, que o “não” às drogas se transforme num “sim” à vida, ao amor, à educação, aos outros, ao desporto e a mais oportunidades de trabalho.
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