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A uma janela de Roma
Papa pede perdão por divisões entre cristãos
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O Papa Francisco esteve três dias na Terra Santa e fez o resumo da sua peregrinação. No avião de regresso a Roma, falou de vários temas, como o celibato, os abusos sexuais contra crianças, a família e a resignação dos Papas.

 

1. A viagem do Papa à Terra Santa, entre 24 e 26 de maio, foi o tema da audiência-geral de quarta-feira, na Praça São Pedro. O Papa Francisco fez uma pausa na suas catequeses sobre os sete dons do Espírito Santo, para falar da recente peregrinação que ele definiu como “um grande dom para a Igreja” e recordou o motivo que o levou à terra de Jesus: celebrar os 50 anos do encontro entre Paulo VI e o Patriarca Atenágoras, rezando desta vez no Santo Sepulcro com Bartolomeu I. “Naquele local onde ressoou o anúncio da Ressurreição, sentimos toda a amargura e o sofrimento das divisões que ainda existem entre os discípulos de Cristo. A divisão faz mal ao coração. Ainda estamos divididos? Naquele local onde Jesus nos dá a vida, nós ainda estamos um pouco divididos”, disse Francisco. “Mas sobretudo, naquela celebração repleta de recíproca fraternidade, estima e afeto, ouvimos forte a voz do Bom Pastor ressuscitado que quer reunir todas as suas ovelhas em um só rebanho; sentimos o desejo de curar as feridas ainda abertas e prosseguir com afinco o caminho para a plena comunhão. Mais uma vez, como fizeram os Papas precedentes, eu peço perdão por aquilo que fizemos para favorecer esta divisão. E peço ao Espírito Santo que nos ajude a curar as feridas que nós fizemos aos outros irmãos. Todos somos irmãos em Cristo e com o Patriarca Bartolomeu somos amigos, irmãos compartilhamos a vontade de caminhar juntos”, acrescentou, na audiência do passado dia 28 de maio.

O Papa lembrou que outra finalidade desta peregrinação foi encorajar na região o caminho rumo à paz – encorajamento feito nas três etapas da visita: Jordânia, Palestina e Israel. “Eu o fiz sempre como peregrino, levando no coração uma grande compaixão pelos filhos daquela Terra, que há muito tempo convivem com a guerra e têm direito de conhecer finalmente dias de paz! (...) A paz faz-se artesanalmente. Não existem indústrias de paz. Ela é feita todos os dias, artesanalmente e também com o coração aberto para venha o dom de Deus”. Ba Jordânia, Francisco declarou-se “impressionado” com a generosidade da população, que acolhe milhares de refugiados em seu território, que fogem das guerras na região. “Que Deus abençoe este povo acolhedor”, disse o Papa, pedindo que a comunidade internacional ajude o país neste trabalho de acolhimento.

Ainda sobre o tema da paz, Francisco recordou o convite feito aos Presidentes de Israel e da Palestina, “homens de paz e artífices da paz”, para irem ao Vaticano para rezarem pela paz. “Por favor, peço a vocês que não nos deixem sós. Rezem muito para que o Senhor nos dê a paz naquela terra abençoada. Conto com a oração de vocês, forte, rezem muito para que reine a paz”, pediu.

No final, o Papa Francisco afirmou que a sua viagem foi também a ocasião para confirmar na fé as comunidades cristãs que tanto sofrem, e expressar a gratidão de toda a Igreja pela presença deles naquela região e em todo o Médio Oriente. “Com esta visita, quis levar uma palavra de esperança; mas também eu a recebi; recebi-a de irmãos e irmãs que continuam a esperar contra toda a esperança, por meio de tantos sofrimentos, como os que fugiram do próprio país por causa de conflitos ou que foram discriminados e desprezados por causa da sua fé em Cristo. Rezemos por eles e pela paz na Terra Santa e em todo o Médio Oriente. A oração de toda a Igreja ampare também o caminho rumo à plena unidade entre os cristãos, para que o mundo creia no amor de Deus que em Jesus Cristo veio habitar entre nós”.

 

2. O celibato dos padres “não é um dogma de fé”, mas sim “uma regra de vida”, afirmou o Papa Francisco, esta segunda-feira, dia 26, durante a viagem de regresso a Roma após a visita à Terra Santa. “O celibato não é um dogma de fé. É uma regra de vida que eu aprecio tanto e creio que é um dom para a Igreja”, disse o Papa numa conversa com os jornalistas. A bordo do avião que transportou a comitiva, Francisco sublinhou que “não sendo um dogma de fé, está sempre em aberto", mas não é uma prioridade imediata. "Neste momento não falamos disto, como programa, pelo menos por agora. Há coisas mais importantes para realizar”, frisou.

A questão dos abusos sexuais contra crianças cometidos por membros da Igreja também foi abordada, com o Papa a fazer um anúncio. “Nos primeiros dias de junho haverá uma Missa em Santa Marta, com seis a oito pessoas abusadas, e depois terei uma reunião com eles e eles com o cardeal Sean O’Malley, presidente da Comissão [Pontifícia para a Proteção de Menores]. Sobre isto, deve-se avançar”, declarou Francisco. “O abuso de menores é um crime tão horrível. Sabemos que o problema é grave e está por todo o lado, mas a mim, só me interessa a Igreja: um sacerdote que faz isto, trai o corpo do Senhor, porque este sacerdote deve levar este menino, ou menina, este rapaz ou rapariga à santidade; e este, em vez de levar à santidade, abusa deles. Isto é gravíssimo. É como fazer uma missa negra, por exemplo. Em vez de levar a pessoa à santidade, leva-a a um problema que durará toda a vida”, sublinhou.

Nesta longa conversa com os jornalistas, o Papa falou também sobre o Sínodo da Família, que decorre de 5 a 19 de outubro. Francisco diz ficar entristecido quando se reduz o encontro à questão dos divorciados recasados. O Sínodo não vai servir para debater apenas uma "casuística", mas sim para aprofundar uma questão muito mais complexa do que um mero aspeto relacionado com o casamento, salientou. “O Sínodo será sobre a família, sobre o problema da família, sobre a riqueza da família. E eu não gostei nada que tantas pessoas – até da Igreja… padres – tenham dito: ‘o Sínodo é para dar a comunhão aos divorciados’, como se tudo se reduzisse a uma casuística”, referiu.

Questionado se admite um dia resignar ao cargo de chefe da Igreja Católica como fez Bento XVI, Francisco, de 77 anos, respondeu que ainda não sabe o que vai fazer e que tomará uma decisão em função do que Deus lhe pedir. “Eu creio que Bento XVI não é um caso esporádico, mas aconteceu que, já sem forças e, honestamente, como homem de fé e tão humilde, tomou esta decisão. Creio que ele é uma instituição. Há 70 anos, quase não existiam bispos eméritos e agora há tantos. O que acontecerá com os Papas eméritos? Creio que devemos olhar para ele como uma instituição. Ele abriu uma porta, a porta dos Papas eméritos, se haverá outros mais, ou não, só Deus sabe, mas esta porta está aberta. E eu creio que um Bispo de Roma, um Papa que sinta as suas forças a diminuírem, deve-se confrontar com as mesmas perguntas do Papa Bento”, declarou.

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