Sem justiça não há paz e sem paz não há vida digna desse nome. Falamos desta temática não por novidade, mas sim porque, fazendo-o, apontamos para o coração da Boa Nova anunciada por Jesus: a libertação de tudo o que nos impede se ser livres e felizes. Escolhemos algumas áreas onde nos parece mais premente e possível a nossa intervenção.
A Justiça e a Paz estão no centro da própria fé. Logo no começo da Bíblia aparece a pergunta que não larga a consciência do crente: “Caim, onde está o teu irmão ?” Essa interpelação foi avivada pelos profetas e muito claramente pelo Senhor Jesus ao afirmar que, na hora da verdade, seremos avaliados pela atitude que tomámos ou deixámos de tomar perante o que passa fome, o que tem sede, o que não tem abrigo, o que se move para fora à procura de melhores condições de vida, o necessitado. Renovando essa interpelação o Vaticano II refere na Constituição Gaudium et Spes que “as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo”. Trata-se não de uma novidade, mas de uma actualização do Evangelho. Na ligação da Igreja ao homem e à história, foi criada a Comissão Pontifícia Justiça e Paz, depois transformada no Conselho Pontifício Justiça e Paz. Dessa dinâmica emanaram as Comissões Justiça e Paz, a nível nacional, diocesano, ou dos institutos religiosos.
A Comissão Justiça e Paz CIRP conhecida como a CJP dos Religiosos, surgiu no início dos anos 90 e tem por objectivo sensibilizar os religiosos e as pessoas à sua volta para esta dimensão e, ao mesmo tempo, intervir local e globalmente. Elegeu algumas áreas em que se verifica uma mais directa intervenção dos seus membros e que sinteticamente podemos identificar como Migrantes, Habitação, Violência, Norte/Sul, Paz.
Migrantes conduz-nos a algo familiar para nós portugueses que vimos familiares, amigos e vizinhos a deixarem a terra para ganharem o pão que esta lhes negava; mas também nos confronta com o facto de que, nas duas últimas décadas, este país se foi transformando em terra de destino para aqueles que, desde a África lusófona, do Brasil e do Leste nos procuram. Manifestar-lhes solicitude fraterna, exigir e acompanhar uma legislação mais humana, buscar caminhos para a sua integração constituem uma interpelação que não se pode meter na gaveta.
Habitação faz-nos olhar para um país que ainda não foi capaz de eliminar as manchas de barracas ou casas indignas desse nome. Porque vivendo na proximidade das pessoas, tem-se interpelado a consciência dos governantes para a necessidade de ir diminuindo o fosso que separa ricos e pobres, criando condições mínimas para que a igualdade de oportunidades seja efectiva.
Violência é uma manifestação de pobreza várias: cruzam-se connosco dramas de violência, sempre inaceitável, seja ela a doméstica, a violência para exploração sexual, a violência e a insegurança em áreas marginalizadas pela sociedade e pelo poder, seja ainda a cada vez mais presente violência inerente ao tráfico de pessoas; neste sector viu-se a necessidade de criar uma comissão específica, a Comissão de Apoio à Vítima de Tráfico de Pessoas.
Paz é o fruto da justiça. Uma sociedade marcada pela pobreza estará necessariamente atravessada pelas injustiças nas oportunidades desiguais, na exploração laboral, no domínio dos poderosos e acompanhada pelo espectro dos conflitos. Rejeitar a inevitabilidade desses e apontar caminhos de colaboração tem constituído o nosso contributo. E, ultimamente, o respeito pela integridade da criação tem-se imposto à nossa consciência como uma exigência ética irrefutável.
Norte/Sul coloca-nos na dimensão da catolicidade. Para quem o mundo não se confina às dimensões do seu quintal, da sua terra ou do seu país e agora transformado em Aldeia Global, nada do que acontece perto ou longe é indiferente, sabendo que, embora uns nos camarotes e outros no porão, todos seguimos no mesmo barco, partilhando o risco de afundamento. Questões como a dívida externa dos países pobres, a fome, a produção e comércio de armas, as crianças-soldado, o acesso aos medicamentos, um comércio internacional baseado em relações de justiça e solidariedade têm-nos movido a promover campanhas frequentemente de âmbito internacional.
Obviamente que a eleição de tais áreas não pode significar exclusividade. Muitas outras se deparam à sociedade e outras respostas têm sido dados às suas interpelações. Também nisto a diversidade contribui para a riqueza. E, se o esforço de todos é necessário para uma sociedade mais feliz, como ele vai ser necessário nos dias que nos esperam marcados pela crise que de uma forma repentina faz ruir sonhos e expectativas de tanta gente!
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