A abertura desta sessão contou com a presença de D. José Policarpo que referiu ter dificuldade em pensar no cardeal Cerejeira enquanto um arquivo. A proximidade, confiança e convivência que se estabeleceu entre ambos ao serviço da Diocese de Lisboa são dimensões ainda muito actuais no pensamento do actual patriarca, dificultando uma percepção e concepção da actividade de D. Manuel Gonçalves Cerejeira enquanto memória histórica.
O projecto de organização e descrição do fundo arquivístico de D. Manuel Gonçalves Cerejeira foi desenvolvido pelo Serviço de Arquivo Histórico e Biblioteca do Centro Cultural do Patriarcado de Lisboa (S.A.H.B.). Coordenaram cientificamente a intervenção D. Carlos Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa, e Ricardo Aniceto, responsável pelo S.A.H.B. A execução esteve a cargo de Alexandra Xisto (técnica superior de arquivo) e contou com a preciosa colaboração do núcleo de voluntários que integram este serviço da cúria diocesana, em fases específicas de desenvolvimento do projecto.
Nas palavras dos técnicos que coordenaram e executaram o projecto, “organizar o arquivo de D. Manuel Gonçalves Cerejeira foi encarado como um desafio, só suplantado porque houve quem ousasse acreditar e motivar um serviço que era jovem, formado por parcos recursos humanos e ainda com pouca experiência no tratamento de espólios pessoais”. Acresceu a este facto “a ausência de bibliografia técnica específica e de um sistema organizativo e normativo, traduzido em instrumentos legais orgânicos que enquadrassem a intervenção arquivística e que permitissem delinear com maior segurança a estrutura classificativa de uma documentação que se encontrava dispersa, parcialmente desestruturada, e descontextualizada do universo de produção orgânico e documental previsto nas reestruturações ocorridas nos serviços da cúria patriarcal no decorrer do pontificado”.
Este projecto nasceu na esteira de um projecto universitário mais abrangente liderado pelo Prof. Doutor Salgado Matos designado ‘A Igreja Católica e o Estado Português no séc. XX. Os cardeais Mendes Belo, Gonçalves Cerejeira e António Ribeiro’. Tem por objectivos principais: estudar a interacção entre os três cardeais de Lisboa com o Estado português, lançar nova luz no funcionamento do Estado português no que toca às suas relações com a Igreja Católica e estudar a política externa e colonial de Portugal e a sua relação com a Santa Sé. Os objectivos instrumentais são coligir e publicar documentos oficiais do Estado português e da Igreja Católica; registar documentos audiovisuais; e estabelecer uma rede académica internacional sobre as relações contemporâneas entre o Estado e a Igreja.
Aliado o interesse da comunidade científica à consciência da necessidade de preservação e valorização desta documentação enquanto memória viva de uma comunidade eclesial e de um pontificado interventivo nos domínios pastoral, social, político e cultural em tão importante período da contemporaneidade, foram movidos esforços para encetar esta tarefa que contou com o apoio financeiro da empresa Jerónimo Martins.
O cronograma da intervenção foi dividido em seis fases. Na primeira fase, e após recolha de documentação dispersa, procedeu-se ao seu expurgo e inventariação preliminar. Além de documentos do Cardeal Cerejeira acondicionados em caixas, pastas, maços e arcas, foi identificada documentação relativa a patriarcas (D. José Sebastião Neto e D. António Mendes Belo, D. António Ribeiro) e fundos particulares de que destacamos Marquês da Subserra e Bemposta, Condessa de Rilvas, D. Domingos Maria Frutuoso e Madre Catarina d’Ornelas. Paralelamente, identificou-se um importante acervo fotográfico.
Apesar de um estado de conservação razoável, subsistiu, no entanto, a necessidade de higienização e correcto acondicionamento dos documentos. Nesta segunda fase procedeu-se à separação do material bibliográfico não relacionado com documentação e respectiva incorporação na Biblioteca do Patriarcado.
Na 3ª fase do projecto desenvolveu-se trabalho no âmbito da estruturação de um quadro de classificação. Realizaram-se consultas à Vida Católica, Lúmen, Anuários, Código de Direito Canónico, Concílio Plenário Português. Anuários Pontifícios, etc. Procedeu-se ainda a algumas entrevistas nomeadamente aos Cónegos Manuel Lourenço, chanceler da Cúria Patriarcal, e João Rocha, antigo secretário do Cardeal Cerejeira. Elaborou-se um quadro de classificação baseado nas funções e competências da entidade que produziu e acumulou a documentação, respeitando a organização pré-existente e os princípios fundamentais da arquivística (respeito pela proveniência e ordem original). A classificação dos documentos foi idealizada mediante um esquema multi-nível. Dentro do Fundo “Cardeal Cerejeira – 14.º Patriarca de Lisboa”, foram identificados os seguintes subfundos, distribuídos conforme a percentagem indicada:
- “Universidade de Coimbra” – 95 %
- “Arcebispo de Mitilene e Vigário Capitular” – 1%
- “Secretaria Particular” – 2%
- “Cardeal Patriarca Resignatário” – 2%
No momento da descrição, correspondente à 4ª fase do projecto, a metodologia adoptada seguiu o preconizado pelas normativas nacionais e internacionais. Foi produzida folha de descrição ao nível de inventário, bem como descrições ao nível dos documentos simples e compostos para algumas séries das quais destacamos: Imprensa temática e cronológica (PT/AHPL/PAT14-SP/Y/08 e 09); Breves e bulas (PT/AHPL/PAT14-SP/A/02); Condecorações e diplomas (PT/AHPL/PAT14-SP/X/08); Álbuns fotográficos e fotografias avulsas (PT/AHPL/PAT14-SP/Z/01 e 02).
A 5ª fase correspondeu à finalização do processo de descrição de fotografia e colecção de recortes de imprensa, bem como recolha e organização de documentação do prelado existente na U.C.P. A sexta fase do projecto consistiu na revisão da meta-informação produzida, correcções de organização, e acondicionamento definitivo da documentação.
O espólio documental traduz-se em 319 caixas de documentação que albergam 22.965 documentos simples e compostos, 8.162 recortes de imprensa organizados em 210 áreas temáticas, 660 dossiers e 329 capilhas de recortes de imprensa organizados cronologicamente. Acrescem a este espólio 3841 provas fotográficas organizadas em 82 álbuns, bem como 2961 fotografias avulsas organizadas em 808 episódios acondicionados em 173 caixas.
A importância do acervo documental do prelado já foi demonstrada em algumas publicações e teses universitárias, que obtiveram autorização especial para consulta. Salientamos o livro ‘Provas. A outra face da situação e dos factos do caso do Bispo do Porto’ editado pela Fundação Spes, o livro da autoria de Maria João da Câmara intitulado ‘Cristo Rei. Espiritualidade e História’, a tese de mestrado de Vera Maria Félix sobre a capela de Nossa Senhora de Fátima na igreja de Santo Eugénio em Roma, bem como colaboração em artigos de imprensa periódica nomeadamente jornal I e Público.
A consulta deste espólio está sujeita à legislação em vigor que rege a comunicabilidade de documentação de arquivo (Decreto- Lei 16/93 de 23 de Janeiro).
Conforme referiu D. Carlos Azevedo no final da sessão “O arquivo nasceu. Ensinem-no a falar”.
Mais informações:
Vídeo da Apresentação: http://www.youtube.com/watch?v=zS1TnqXE3gE
PowerPoint da Apresentação: www.patriarcado-lisboa.pt
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