Lisboa |
Homilia do Domingo de Páscoa
«Cristo ressuscitou: convertei-vos à paz»
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1. Cristo ressuscitou! Aleluia! A vida venceu a morte, a luz rompeu as trevas, a esperança ergueu-se do túmulo. Hoje, a Igreja inteira exulta com uma certeza inabalável: o Senhor vive e caminha connosco!

Neste ano jubilar, em que somos chamados a ser «Peregrinos de Esperança», a Páscoa revela-se como o coração dessa esperança. Não uma esperança frágil, baseada em palavras humanas ou previsões otimistas, mas uma esperança firme, enraizada num facto: o túmulo está vazio e Jesus ressuscitou.

A ressurreição de Jesus não é um mito, nem apenas um símbolo. É um acontecimento real que transforma tudo, que abre a história à eternidade, que ilumina até as noites mais escuras. E com ela, recebemos dois dons preciosos e indissociáveis: a paz e a esperança.

 

2. O Evangelho que hoje escutamos apresenta-nos um cenário discreto e profundamente eloquente: Maria Madalena corre de madrugada ao sepulcro. Vê a pedra removida. Chama Pedro e o outro discípulo. Correm. Entram. Veem. João acredita. Ainda não viram o Ressuscitado, mas os sinais falam. O vazio do túmulo já contém a plenitude da esperança. Ali, nasce um mundo novo. Aquele que morreu por amor vive por amor eterno. E não volta com vingança, mas com paz para todos.

Pouco depois, quando aparecer aos discípulos, Jesus dirá: «A paz esteja convosco». Esta não é uma simples saudação. É a primeira palavra do Ressuscitado, e com ela oferece ao mundo a paz que nasce da cruz e floresce na esperança pascal. Paz e esperança que precisamos neste tempo, que nos é dado viver que o mundo precisa para ser o que Deus quer. O túmulo vazio abre verdadeiros caminhos de humanidade, de fraternidade, de dignidade. O túmulo é o sinal que escancara a porta do coração, para aquela conversão que renova todas as coisas. Só a partir do coração se podem trilhar verdadeiros caminhos de paz.

 

3. «Aspirai às coisas do alto» (Cl 3,1): convidava-nos São Paulo. Este é o caminho da conversão pascal: mudar o olhar, elevar o coração, orientar a vida para Cristo vivo. Só assim a paz e a esperança do Ressuscitado ganham raízes. A esperança jubilar exige conversão do coração. A paz sem conversão é frágil. A esperança sem mudança é ilusão. Por isso, o Jubileu chama-nos a uma renovação profunda: a deixarmos para trás o homem velho – feito de medo, de egoísmo, de indiferença – e a revestirmo-nos de Cristo, o Homem novo, que vive e reina para sempre.

Hoje, o mundo tem realmente fome de esperança, mas também tem sede de autenticidade. A nossa conversão pascal é o maior testemunho que podemos dar: mostrar, com a vida, que a esperança é possível. Que é possível perdoar, recomeçar, reconstruir, viver como irmãos.

 

4. Pedro, na casa de Cornélio, proclama: «Jesus mandou-nos pregar ao povo e testemunhar» (At 10,42). A esperança da ressurreição não se guarda, partilha-se. Não se cala, anuncia-se. Não se esconde, testemunha-se.

 

Neste ano jubilar, somos chamados a ser peregrinos de esperança, isto é, homens e mulheres em caminho, que levam aos outros o anúncio da vida mais forte que a morte, que caminham com os que sofrem, que consolam os que choram, que não desistem de semear a paz. A mensagem da ressurreição enche de coragem os discípulos autênticos de Jesus.

 

5. O Crucificado é, agora, o Ressuscitado que se nos comunica até através do que o nega. Desde a Páscoa, e é sempre Páscoa, o sentido, a vida, vêm-nos também pela morte e por todas as situações de morte da nossa existência, se, por uma humilde confiança, as identificarmos com as chagas vivificadoras de Cristo. A força surpreendente e maravilhosa da Páscoa mergulha-nos não só na imortalidade da alma, nem apenas na ressurreição dos mortos no fim dos tempos, mas sim na nossa ressurreição em Cristo, desde já. A vida eterna começa aqui e agora, «o outro mundo» está no coração deste. «Eu sei que não morrerei, porque sinto a vida inteira a jorrar dentro de mim» – dizia São Simeão[1]. A Ressurreição faz surgir homens e mulheres que não têm medo da morte e, portanto, são capazes de colocar na história gestos de verdadeira libertação; de empreenderem caminhos de paz, de solidariedade e de esperança.

É urgente reavivar esta esperança, num tempo em que a violência, o medo e o desânimo parecem ter a última palavra. Mas nós, como cristãos, sabemos: a última palavra pertence a Deus. E a Sua palavra é Ressurreição, é Esperança, é Paz.

 

6. Queridos irmãos e irmãs: A alegria da Páscoa é real. A paz do Ressuscitado é verdadeira. E a esperança que nos habita é forte, porque está ancorada no coração de Deus, que é fiel. Hoje, deixemos que Cristo Ressuscitado entre nas nossas vidas com a Sua luz e transforme os nossos medos em coragem, as nossas feridas em lugares de compaixão, as nossas dúvidas em fé viva, os nossos sepulcros frios e escuros em jardins floridos e perfumados. Sejamos Igreja viva que irradia a esperança da Páscoa, que encontra força para o anúncio e compromisso de libertação. Levemos ao mundo esta certeza: Cristo vive! A paz é possível! A esperança não morre!

Deixemo-nos encontrar por Ele, caminhar com Ele. Convertamo-nos à paz. E levemos ao mundo esta certeza: a morte foi vencida, o mal não tem a última palavra e a esperança é mais forte que o medo.

Hoje, começa um novo tempo. Um tempo de ressuscitados. Um tempo de fraternidade universal. Que Maria, Rainha da Paz e Mãe do Ressuscitado, nos ensine a guardar esta alegria e a espalhar esta paz. A Mãe da Esperança nos acompanhe no caminho jubilar.

Cristo ressuscitou! Aleluia! Ámen.

 

Sé Patriarcal, 20 de abril de 2025
† RUI, Patriarca de Lisboa

 

[1] Mistagogia, 2, «Hino XIII», 79-80, SC nº 156, p. 263

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