Domingo |
À procura da Palavra
A força que brota da fraqueza
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DOMINGO III COMUM Ano A

S. VICENTE

“Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só;

mas se morrer, dará muito fruto.”

Jo 12, 24


As Dioceses de Lisboa e do Algarve comungam do mesmo padroeiro: S. Vicente. E a sua festa ocorrendo num Domingo ganha prevalência na liturgia. O jovem diácono de Saragoça que, sendo preso com o seu Bispo, Valério, o acompanhou para Valência onde deu testemunho (martiria) da fé em Cristo, pelas palavras e pelos sofrimentos que lhe infligiram até ser morto, tornou-se um dos santos mais queridos na Ibéria. Desenvolvendo-se o culto às suas relíquias, que a tradição dizia estarem no Cabo que tomou o seu nome, no sul de Portugal, D. Afonso Henriques ordenou que fossem trazidas para Lisboa, tendo repousado uma noite na Igreja de Santas Justa e Rufina, e levadas no dia seguinte para a Sé.

Martírio evoca sofrimento, mas o seu sentido etimológico é “testemunha”. E tornou-se, no contexto das perseguições aos cristãos, o nome que identifica “os que testemunham a sua fé em Cristo até à morte”. Numa profunda união com a paixão e morte de Cristo, com os apóstolos e os cristãos que em todos os tempos, e hoje também, deram, e dão a vida pela Boa Nova de Jesus, eles são venerados como santos. Na celebração do Jubileu do ano 2000, o Papa S. João Paulo II sublinhava a “memória dos mártires” como “sinal da verdade do amor cristão”. Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio, em 2006, na apresentação da edição portuguesa do seu livro “O século do martírio”, que reuniu a análise de 9600 relatórios de “martírios” no século XX, apontava o carácter ecuménico do martírio, porque “os cristãos estão unidos no martírio”. Disse então o autor: “existe um cristianismo ao mesmo tempo forte e doce, forte e dialogante. Isto quer dizer, utilizando uma passagem das escrituras, “o amor é forte como a morte”, ou seja, o testemunho do martírio é o testemunho de uma característica peculiar do cristianismo que é essa força que brota da fraqueza”.

Jesus não pediu aos discípulos para serem super-heróis, nem fez uma exaltação do sofrimento. Não ofereceu promessas de impassibilidade perante o mal, nem ofereceu “seguros contra todos os riscos”. Deu-nos uma Boa Nova que, vivida plenamente, liberta de tantos sofrimentos que só existem por causa do egoísmo, da ganância, do ódio e da guerra, de que todos somos autores. E advertiu-nos de que não ia ser fácil “aprender a fazer o bem e a procurar a justiça” (belíssimo o tema desta Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos!). Que poderíamos ser perseguidos, torturados e mortos por causa do seu nome que, vale a pena lembrar, é “Deus salva”! Sim, salva, pela força do amor até ao fim, que parece tão fraco!

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