A Comissão das Conferências Episcopais da UE acaba de afirmar: “os políticos foram incapazes de resolver as causas da pobreza e assim evitar o aparecimento de novas crises”. A Conferência das Comissões Europeias de Justiça e Paz, no passado mês de Janeiro, apelou a todas as nações europeias apontando que a única esperança para dar uma resposta de longo prazo à crise assenta num compromisso renovado com a solidariedade e a cooperação à escala mundial. Sublinha também que a resposta aos desafios deve centrar-se na dignidade da pessoa, no bem comum e na promoção do desenvolvimento integral.
Com os pés na terra
Quem trabalha no terreno sente-se confrontado, diariamente, com a limitação e a incapacidade perante os rostos concretos que consigo se cruzam. Com a crise e a diminuição de oportunidades de emprego, quantos e quantas carregam o peso da vergonha de estar numa situação que os força a estender a mão, mesmo que tenham de contar a sua história e mostrar documentos, para serem avaliados e enquadrados na categoria de carenciados! Tem de haver critérios para a atribuição de apoios, mas por quê esta barreira tão grande entre quem precisa (e sobretudo aquele que não desiste de lutar pela sua independência) e quem tem o poder de decisão?
Também, a nível das paróquias, quem é o pobre? Quais os termos utilizados? O coitado, o necessitado, o falhado, o dependente? E qual a perspectiva do pobre? Um incapaz, dependente, envergonhado? Constatamos que também aqui há patamares diferentes entre quem tem para dar e quem necessita de receber. Por quê?
A Palavra que transforma
Nós, protagonistas da Palavra que diz “aprendei a fazer o bem: buscai o direito, socorrei o oprimido, fazei justiça ao oprimido” (Is1, 17 -18), sabemos que herdeiros o Reino na medida em que agirmos segundo o critério da presença de Jesus na pessoa do outro. “Eu vos garanto: todas as vezes que fizestes isto a um dos menores dos meus irmãos, foi a Mim que o fizestes” (Mt25,40); e ainda: “Eu que sou o Mestre e o Senhor, lavei-vos os pés... vós deveis fazer o mesmo” (Jo13,14).
Todos os dias individual e comunitariamente rezamos o Pai-Nosso. Poderemos afirmar que Deus é meu, teu e nosso Pai e que entre nós somos irmãos? Escreve Bento XVI que “A caridade é amor recebido e dado… os homens são constituídos sujeitos de caridade, chamados a fazerem-se eles mesmos instrumentos de graça, para difundir a caridade de Deus e tecer redes de caridade” (Caritas in veritate, nº5).
Efectivamente sentir o outro como irmão que me poderá exigir? Antes de mais ver nele, e sobretudo no rotulado de pobre, “o irmão”; aprender com ele, sentir um pouco as suas privações, a sua capacidade de partilha. Quantos renunciam até a alimentos básicos para partilharem com outros alguns euros ou alguns cêntimos!
Nessa linha, como seriam as nossas mesas, as roupas que compramos, as prendas que oferecemos (sobretudo a quem tem tanto ou mais que nós), o recheio das nossas casas, as férias, as viagens – mesmo que sejam aos lugares santos? Em instituições ou serviços como aceitamos e sobretudo como gerimos as ofertas, sabendo que, muitas vezes, são resultado de renúncias, autêntico “óbolo da viúva”? (Lc 21,1)?
Seria inconcebível que à mesa da família, uns filhos tivessem o prato cheio e outros apenas um pouco de caldo no fundo do mesmo. Mas na prática, não é isto o que acontece? Confrontando a Palavra com o grito e as lágrimas dos que sofrem privações, surge a questão: afinal quem é o pobre? Não serei eu?
Impõe-se uma vivência mais radical na vida, maior autenticidade e maior comunhão para que “toda a família humana possa invocar a Deus como ‘Pai nosso’” (CV, nº79). Foi esse o desafio de Jesus: “Se tiverdes amor uns para com os outros, todos reconhecerão que sois meus discípulos” (Jo13,34).
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