Há 578 anos que a Paróquia de Nossa Senhora do Amparo de Benfica recebe a Imagem de Nossa Senhora do Cabo Espichel. O Círio dos Saloios chegou a esta paróquia da cidade, com o Cardeal-Patriarca de Lisboa a deixar um convite: “Passai por aqui e olhai para Ela!”.
“Agora, a Imagem de Nossa Senhora do Cabo vai ficar aqui, convosco, durante um ano. De vez em quando, não precisam de mais nada: passai por aqui e olhai para Ela! Nem precisam de muitas palavras. Vão desfiando – se quiserem, e fazem bem – as contas do Rosário, porque elas lembram os acontecimentos principais de Jesus e Maria, em que a nossa salvação aconteceu; mas, sobretudo, deixem-se estar sossegados diante do olhar e da humildade de Maria. E depois, o resto acontece segundo Deus”, aconselhou o Cardeal-Patriarca de Lisboa, na Missa que assinalou a chegada do Círio dos Saloios a esta paróquia da cidade.
Na manhã do passado Domingo, 23 de outubro, na igreja paroquial de Benfica, D. Manuel Clemente pediu depois para não se colocar “condições a Deus”. “Não ponham condições a Deus, não ponham previsões a Deus, não venham com grandes reclamações ou pretensões. Deus, sabe. Sabe melhor do que nós o que nos interessa”, assegurou o Cardeal-Patriarca, reforçando: “Aproveitai bem este ano, passai por aqui, ponde os olhos naquela pequenina Imagem onde se reflete a própria grandeza de Deus, porque é a Mãe de Deus neste mundo, e depois o resto acontecerá segundo Deus e acontecerá com Nossa Senhora do Cabo”.
Humildade
A Imagem de Nossa Senhora do Cabo Espichel esteve pela primeira vez em Benfica no ano de 1444, após ter iniciado o giro em 1430. “Temos connosco esta veneranda Imagem de Nossa Senhora do Cabo, no seu Círio, que agora calhou aqui, e bem, nesta bonita paróquia e freguesia de Benfica. A Imagem foi encontrada no Cabo Espichel e atenção a este pormenor, que é um ‘pormaior’ e tem tudo a ver com o Evangelho da Missa de hoje: encontraram uma pequenina Imagem. Geralmente, as Imagens que nós temos dos Círios marianos – aqui, na nossa diocese, temos sobretudo dois grandes Círios: este, da Senhora do Cabo, e o outro, da Senhora da Nazaré – referem-se a Imagens encontradas de Nossa Senhora e muito pequeninas”, observou D. Manuel Clemente, evocando depois “a humildade” de Nossa Senhora. “O facto de a Imagem da Senhora do Cabo, como outras congéneres que também têm os seus Círios, ser assim pequenina é uma boa lembrança desta condição essencial de Maria: humilde diante de Deus e tão humilde até diante do seu próprio Filho, Jesus. É tudo tão humilde em Maria, é tudo tão disponível, é tudo tão pobre, nosso, para ser unicamente da riqueza de Deus”, apontou, na sua homilia.
Neste sentido, para o Cardeal-Patriarca, “a única e absoluta condição” para estar “diante de Deus” é “a humildade”. “Não há outra maneira de estarmos diante de Deus, não há outra maneira de nós sermos realmente filhos de Deus”, garantiu. “A humildade é uma virtude permanente. Não há outra maneira de estarmos diante de Deus. Quem se humilha será exaltado. É a única linguagem que Deus entende, porque o próprio Deus é humilde”, terminou D. Manuel Clemente.
Tempo “muito especial”
Para o pároco de Nossa Senhora do Amparo de Benfica, este foi “um dia muito significativo para esta paróquia e freguesia de Benfica”. “A última vez que esta Imagem cá esteve foi há 26 anos. Mas a primeira vez que Nossa Senhora do Cabo veio a Benfica foi em 1444. Já passaram muitos anos, mas desde essa altura que o Círio foi sempre passando por aqui, por esta nossa paróquia”, salientou o padre Nuno Rosário Fernandes, durante a Eucaristia com o Cardeal-Patriarca.
Segundo este sacerdote, esta paróquia da cidade recebe o Círio dos Saloios num tempo “muito especial”. “Alegramo-nos muito por podermos receber Nossa Senhora do Cabo Espichel neste que é um tempo especial, de pós-pandemia, e porque estamos em preparação para a Jornada Mundial da Juventude, o grande encontro que vai acontecer na nossa cidade, que nos envolve a todos, envolve a nossa paróquia. Por isso mesmo, alegramo-nos com esta presença, neste tempo tão especial. Estamos todos de parabéns, mas a primeira a estar de parabéns é, de facto, a nossa Mãe”, acrescentou o padre Nuno Rosário Fernandes, iniciando uma salva de palmas dirigida a Nossa Senhora do Cabo Espichel.
Chegada à cidade
O presidente da mesa administrativa da Confraria do Círio dos Saloios de Nossa Senhora do Cabo Espichel considera “significativo” a Imagem de Nossa Senhora do Cabo chegar à cidade de Lisboa no ano pastoral em que a capital portuguesa vai receber muitos milhares de jovens para a Jornada Mundial da Juventude. Mas é também desafiante, refere António Pinto, em declarações ao Jornal VOZ DA VERDADE. “Todo o Círio, na sua história, foi sempre muito rural, muito saloio – mas, agora, os saloios não são só os rurais. Nestas freguesias, que estão completamente urbanizadas e não têm nada que ver com as aldeias, é mais difícil manter a história, porque muitas das pessoas que moram cá, não são de cá, não têm aqui raízes, e, além disso, a última passagem por Benfica foi há 26 anos, o que é muito tempo”, aponta.
Este responsável salienta ser “preciso lembrar” as pessoas da importância do Círio dos Saloios. “Fomos ver a história e, no caso de Benfica, desde 1444 que nunca falharam o Círio – exceto no período em que todos falharam, a seguir à Implantação da República, durante cerca de 20 anos, em que não houve. Há 26 anos, Benfica já era uma terra grande e urbana, mas agora está diferente outra vez. Quando cá cheguei para falar com as pessoas, muita gente nem se lembrava bem do que era isto. É preciso fazê-las lembrar, ir buscar a história toda e dizer como foi anteriormente”, explica.
Manter as 26 paróquias
A paróquia de Benfica recebeu a Imagem de Nossa Senhora do Cabo da paróquia de Bucelas onde, segundo o presidente da mesa administrativa da Confraria do Círio dos Saloios de Nossa Senhora do Cabo Espichel, “correu tudo muito bem” ao longo do último ano. “Há 300 anos que Bucelas não recebia o Círio! Entraram agora, no lugar de Oeiras. Quando foi criado o Círio, havia 30 freguesias, mas desde o século XVIII, no 12.º Giro, houve uma alteração e quatro paróquias saíram, mantendo-se as atuais 26. Nos últimos anos, umas saem, mas temos conseguido ir buscar outras, no caso Arranhó e Bucelas. Não sei como vai ser o futuro, mas vamos tentar manter sempre as 26 paróquias. Nossa Senhora ajuda”, garante António Pinto.
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“Ao longo deste ano, passai por aqui muitas vezes. Sempre que a igreja estiver aberta, sentai-vos aí, diante do olhar da Mãe, e deixai que esse olhar os inunde de paz e de tudo aquilo que Ela ganhou de Deus para distribuir por nós. Porque é essa a sua humildade: nada retém para si, deu-nos o Filho de Deus, dá-nos a sua proteção maternal. É mesmo a Senhora do Cabo e a Senhora do Amparo para todos e para cada um!”
D. Manuel Clemente, antes da bênção final
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“Começámos do zero. Nem papéis tínhamos”
Eleita em 2018 para um mandato de quatro anos – que termina neste ano, com as eleições a 19 de novembro próximo –, a mesa administrativa da Confraria do Círio dos Saloios de Nossa Senhora do Cabo Espichel foi “a primeira” a ser constituída. “Começámos do zero. Nem papéis tínhamos. Foi preciso criar tudo de novo, arranjar irmãos. Fomos eleitos através de reuniões que se foram fazendo, com 19 paróquias, que chegaram à conclusão que tinham de ter um órgão que fosse representante das paróquias todas. Isoladamente é mais complicado tomar conta das coisas”, frisa, ao Jornal VOZ DA VERDADE, António Pinto, de 70 anos. “O nosso papel é tentar arranjar irmãos das outras paróquias, como é o caso aqui, de Benfica, em que só agora é que vamos ter irmãos”, acrescenta o presidente da mesa administrativa, referindo que a confraria “tem, neste momento, 170 irmãos”. “Não é nada mau”, considera.
Para o futuro, António Pinto, que é de novo candidato, pretende “desenvolver mais a confraria”, de forma a que “ganhe condições para outros pegarem”. “Não temos sequer uma sede própria, que seja nossa”, lamenta. Por outro lado, “pela primeira vez na história”, a Confraria do Círio dos Saloios de Nossa Senhora do Cabo Espichel “vai ficar com todo o espólio que anda sempre de terra em terra”, porque, refere este responsável, “nem todas as paróquias têm condições para guardar as coisas”.
Às paróquias que recebem e integram o Círio, a proposta é que “sejam irmãos” da confraria.
Informações: www.facebook.com/saloiosdocaboespichel
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