Lisboa |
Congregação dos Pobres Servos da Divina Providência assinala cinco anos no Patriarcado
“Se é para os pobres, a Providência não vai faltar!”
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Foi há cinco anos que o Patriarcado de Lisboa acolheu a Congregação dos Pobres Servos da Divina Providência, fundada há 115 anos por São João Calábria, sacerdote diocesano de Verona, em Itália. Pároco de Algueirão-Mem Martins-Mercês, na Vigararia de Sintra, o padre Manuel Oliveira é o único sacerdote português desta congregação e testemunha como é viver diariamente da “paternidade do Pai”.

 

“O que me apaixonou nesta congregação foi o serviço gratuito aos pobres confiando na Providência. Não se basear nas garantias materiais humanas, mas na paternidade de Deus e na Providência”. É desta forma que o padre Manuel Oliveira Marques da Silva, o único sacerdote português da Congregação dos Pobres Servos da Divina Providência, explica, ao Jornal VOZ DA VERDADE, o sentido da sua vocação e missão. “Quando ajudamos os pobres, a Providência vem. O nosso fundador, São João Calábria, ensinou-nos muito isto: ‘Não se deixe de fazer uma obra de bem porque faltam os meios; primeiro, faz-se o bem e os meios, certamente, chegam’. Ele viveu e experimentou isso na sua vida”, acrescenta o sacerdote, de 68 anos. ‘Tem experimentado isso em Algueirão?’, questionamos. “Também. Especialmente na ajuda aos pobres, há uma abundância de coisas a fazer. Por exemplo, no tempo da pandemia, a paróquia foi muito generosa a ajudar, a fazer refeições, a trazer alimentos… O bem tem que ser feito! Se é para os pobres, a Providência não vai faltar! E nunca faltou!”, assegura o pároco de Algueirão-Mem Martins-Mercês, partilhando ainda um episódio, mais antigo, na vida da congregação: “No tempo da Segunda Guerra Mundial, em Verona, todos os institutos fecharam as portas porque não tinham possibilidades de manter. O padre Calábria tinha 100 crianças internas, algumas já jovens, e nunca fechou. Ele tinha pouca coisa, mas a Providência nunca lhe faltou e nunca fechou a casa por falta de meios. Passavam mal, é verdade, mas viviam e ele sentiu a Providência muito forte”.

 

Não desistir

Após ter sido ordenado nesta congregação, em 1984, o padre Manuel Oliveira ficou a trabalhar em Itália, na formação, durante 12 anos. “Em 1997, fui abrir a primeira missão da congregação na Roménia. É por isso que temos romenos connosco, aqui, em Algueirão”, graceja. Ficou 13 anos “na zona mais católica da Roménia” e trabalhou na formação. “Foi uma boa experiência”, considera, lembrando o desejo que tinha de “fazer uma experiência pastoral, de paróquia, que nunca tinha feito”. Assim, em 2010, partiu para o Brasil. “Estive em Pernambuco, dois anos, e depois fui para o Maranhão, iniciar uma paróquia nossa, e fiquei mais cinco anos”, refere.

Sendo o único sacerdote português da Congregação dos Pobres Servos da Divina Providência, o padre Manuel Oliveira, natural da Diocese de Aveiro, assume que sempre desejou trazer a congregação para Portugal. “Só em 2017 foi possível, mas fiz algumas tentativas com D. António Marcelino e depois com D. António Francisco dos Santos, porque também era muito ligado a ele”, recorda. “A chegada a Portugal foi proporcionada pelo anterior Núncio Apostólico, D. Rino Passigato, que é de Verona e conhece bem a congregação. Há uns anos, foi operado no nosso hospital em Verona, contactou com os nossos superiores e convenceu-os a abrir a congregação ao nosso país, em 2017, até para coincidir com o centenário de Fátima. E assim foi! Sendo eu português, pediram-me para vir para Portugal abrir a missão”, conta o sacerdote, recordando como o Cardeal-Patriarca de Lisboa “confiou” nesta congregação: “Viemos para cá sem saber que íamos ficar aqui, em Algueirão-Mem Martins-Mercês. Ajudávamos o padre João Braz, então pároco, e em 2018, após um ano de adaptação, assumimos a paróquia”.

 

Unidade

A comunidade de Algueirão da Congregação dos Pobres Servos da Divina Providência é a única no nosso país e é composta por cinco membros: o padre Manuel Oliveira, pároco, os dois vigários paroquiais, padre Adrian Cimpoesu, da Roménia, e padre João Vieira Kakweya, de Angola, um irmão religioso consagrado, o irmão Cristinel Gherfi, também da Roménia e que é o atual diretor do Centro Social Paroquial de Algueirão, e um seminarista angolano religioso, que está na Universidade Católica a estudar Teologia. “Nós fazemos a vida comunitária religiosa normal, como comunidade, o que também é uma mais valia. Apoiamo-nos e colaboramos uns com os outros e isso sente-se na paróquia. Estamos em sintonia, não é cada um por si, e as pessoas sentem que existe harmonia também no trabalho pastoral. Temos tudo nos três núcleos da paróquia, mas rodamos entre os padres para criar unidade, nossa e pastoral”, garante o pároco, destacando ainda a colaboração de dois diáconos permanentes, Emanuel Antunes de Jesus de Sousa e Ilídio de Jesus de Sousa, e do padre Alberto Mendes, capelão da Casa de Saúde do Telhal e que faz parte da equipa pastoral da paróquia. “Tem sido um desafio, porque nunca tinha trabalhado em Portugal e tive de entrar na maneira de fazer o trabalho pastoral, porque vinha habituado ao Brasil. Procurei caminhar com o Bispo, mas tive de me adaptar à realidade, com muita humildade e muita disponibilidade, para entender as situações, as pessoas, as coisas, e fazer aquilo que a diocese faz. As congregações não trabalham numa paróquia com um projeto próprio. A nossa espiritualidade e o nosso carisma, sim; mas depois a pastoral é a da diocese, com aquilo que a diocese pede a todas as paróquias. Esse é que é o nosso serviço”, salienta o padre Manuel Oliveira.

Algueirão-Mem Martins-Mercês é muitas vezes apelidada de ‘maior paróquia da Europa’, tendo atualmente 75 mil a 80 mil pessoas. “A nossa realidade aqui é bastante complexa, pelo facto de serem três núcleos – e são três núcleos bem diferentes uns dos outros. Na história, há também alguns problemas de convivência. É muito desafiante, mas temos um bom grupo de leigos que colaboram, temos um conselho pastoral muito bom, que nos ajuda muito, e procuramos sempre criar esta unidade, como paróquia”, explica.

 

Empolgados com a JMJ

A Paróquia de São José de Algueirão-Mem Martins-Mercês é “um mundo”, com “muitas atividades” e “muitos grupos”. “Temos um agrupamento de escuteiros muito forte, e trabalhamos muito em sintonia, temos um centro social paroquial bastante envolvido na realidade, incluindo um grupo de caridade, com voluntariado, que todos os dias dá alimentação aos pobres”, refere o pároco, destacando ainda a pastoral juvenil, que tem “uma longa história na paróquia”. “Todos os três núcleos têm grupos de jovens”, refere.

Sobre a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, o pároco diz que há “muita expectativa” em toda a paróquia. “Temos um COP [Comité Organizador Paroquial], além de dez voluntários que vão ser responsáveis de grupos de voluntários. Os jovens estão muito animados e empolgados”, garante o pároco de Algueirão-Mem Martins-Mercês.

 

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Único padre português da congregação

O padre Manuel Oliveira é natural de Albergaria-a-Velha, na Diocese de Aveiro, onde nasceu em 1953. Com 15 anos, emigrou com os tios para o Brasil, mais concretamente para Porto Alegre. “Foi aí que conheci a congregação, que tinha lá uma missão”, diz. Tinha então 21 anos, fez os estudos e o noviciado em terras brasileiras e foi fazer a Teologia em Itália, a partir de 1980, e a licenciatura em Teologia Espiritual, em Roma. “Quem me ordenou foi o D. António Marcelino, antigo Bispo de Aveiro e, antes, Bispo Auxiliar de Lisboa. Ele fez questão de me ordenar porque fez pastoral numa paróquia nossa em Itália e conhecia muito bem a congregação”, conta o padre Manuel, que foi ordenado em 15 de agosto de 1984, na sua terra. “Sou o único padre português da congregação. Aliás, ainda sou o único padre português da congregação, mas esperamos que venha mais algum”, deseja.

 

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Congregação dos Pobres Servos da Divina Providência

“Somos uma congregação com 115 anos. O nosso fundador, São João Calábria [1873-1954], era um sacerdote de Verona, Itália, que começou, em 1907, com 34 anos, uma obra para as crianças pobres e órfãs da cidade”, começa por explicar, ao Jornal VOZ DA VERDADE, o padre Manuel Oliveira. As necessidades das crianças, naquele tempo, “eram muitas”, pelo que “o Bispo o libertou para esta missão”, que iniciou oficialmente no dia 26 de novembro de 1907, numa casa alugada a que deu o nome ‘Casa dos Bons Meninos’. “Começou um movimento de leigos e de pessoas que o ajudavam. Ele criou uma comunidade para cuidar destas crianças, quer rapazes, quer raparigas, e o objetivo era ajudar na educação e na formação destas crianças”, explica o único sacerdote português desta congregação, assegurando que o fundador “não pensava criar uma congregação”.

Uns anos mais tarde, um nobre de Verona, “um conde que depois se consagrou na congregação e que tem a causa de canonização em andamento”, ajudou muito o padre Calábria “com os seus bens, comprando uma casa grande para acolher mais crianças”. “A nossa espiritualidade é a confiança na Providência. Porque tudo o que São João Calábria fazia com as crianças era da Providência, daquilo que as pessoas ajudavam. É Deus que é Pai, um Pai providente e que nos ajuda com a sua Providência. Ele não queria as proteções humanas para a sua obra”, lembra.

A obra foi crescendo, abriu um hospital, que era um pequeno ambulatório de uma paróquia “e que hoje é um dos hospitais de referência em Verona”, e, depois, abriu uma outra casa em Vicenza, perto de Pádua. A aprovação diocesana da nova congregação aconteceu em 1932 e a aprovação Pontifícia em 1949. São João Calábria “não pensava em paróquias”, mas “quando o Papa lhe pediu” entendeu que se “devia dedicar à missão paroquial”. Em 1959, a congregação “abriu-se às missões, fora de Itália”, já depois da morte do fundador. “Ele preparou tudo antes”, garante o padre Manuel. A primeira missão foi “aberta no Uruguai, seguindo-se o Brasil, a Argentina, o Paraguai e o Chile”. “A missão em Angola foi aberta depois da independência, num tempo de guerrilha muito forte, e hoje estamos também no Quénia. Nos anos 80, abrimos na Índia e Filipinas e, no ano passado, chegámos à República Dominicana”, refere o sacerdote português, sublinhando ainda a presença em Itália e na Roménia. A chegada ao nosso país, através do Patriarcado de Lisboa, aconteceu em 2017.

O padre Calábria foi beatificado em Verona, pelo Papa João Paulo II, em 1989, e canonizado em Roma, pelo mesmo Papa, em 1999. A festa litúrgica de São João Calábria é a 8 de outubro.

texto por Diogo Paiva Brandão; fotos por Diogo Paiva Brandão e congregação
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