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Beatificação do Padre Popiełuszko: as ideologias passam mas a fé e o amor acabam por vencer, pelo Pe. Duarte da Cunha
Um homem tímido e humilde, um jovem padre que enchia de ousadia e de coragem milhares de outros jovens e milhares de operários. Não incitava ao ódio nem sequer à violência. O seu lema era uma frase de São Paulo que resume a vida de Jesus: “vencer o mal pelo bem”(cf. Rom 12,21). Tratava-se de defender a dignidade de cada ser humano, sem distinção, contra aqueles que a desconsideram, a violentam ou a desprezam.

Assumir esta missão sem medo e com um carisma que inflama outros é algo que acontece quando a pessoa é escolhida e se deixa conduzir por Deus. Na Polónia, depois da II Grande Guerra, quando se pensava que finalmente viria a liberdade, o exército vermelho, que deveria ser o libertador, mostrou que não tinha essa intenção. Depois de 6 anos terríveis onde morreram centenas de milhares de pessoas, a Polónia país continuou a sofrer. Durante os 45 anos que se seguiram este país foi uma espécie de satélite da União Soviética. Nos primeiros anos, os seus dirigentes eram mesmo russos que “adquiriam” a nacionalidade polaca para governarem o país.

Impressiona particularmente o facto de o Padre Popiełuszko ter sido brutalmente assassinado há apenas 26 anos. Não foi há muito tempo! Lembro-me bem de ver na televisão a notícia. E recordo-me como este acontecimento foi sentido como um sinal de que, de facto, para lá do muro se vivia uma tragédia. Mas, hoje, vendo a sua beatificação acontecer no contexto novo em que se vive na Polónia, percebe-se como as armas dos mártires, ou seja, o amor e a fé, são mesmo armas que vencem sempre que a dignidade e a liberdade da pessoa humana é violentada. Mesmo que não consigamos saber quando, sabemos que seguindo este método temos uma vitória certa. É, nesse sentido que penso que este padre é um exemplo que também nos serve a nós, no ocidente de hoje e não apenas os polacos ou as pessoas do leste da Europa que viviam sob regimes comunistas.

O que os ateus nunca se lembram, sejam eles defensores de regimes totalitários de esquerda ou de direita, ou mesmo de regimes democráticos que controlam a liberdade religiosa ou que liberalizam o aborto e a eutanásia, é que Deus existe e quem o encontrou não tem medo e não cruza os braços quando a dignidade humana é violada. Por isso, o que eles nunca percebem é como é possível que o amor seja mais revolucionários que a guerra. Não conseguem perceber como é que tendo “arrumado o caso” deste padre incómodo, fosse possível, que a mesma fé que o movia continuasse acesa em milhares de pessoas. Cinco anos depois o regime comunista acabou na Polónia!

A celebração da sua beatificação, no passado dia 6 de Junho em Varsóvia, aconteceu já num momento de paz, mas as milhares de pessoas ali presentes, os quase 2000 padres, não pareciam estar só a lembrar o passado. Pelo contrário, move-os as preocupações do presente, queriam, por isso, encher-se de entusiasmo, mais uma vez com a ajuda do Padre Popielszko, para viver melhor a sua vida e enfrentar os desafios actuais. Se não fosse isso, como poderíamos explicar que grande parte dos que participaram na missa tenha prosseguido numa procissão de 12 km até às 18horas em direcção ao local onde se está a construir um santuário da Divina Providência?

Um momento particularmente intenso da celebração foi quando a mãe do novo beato, que acaba de festejar os seus 90 anos, dirigiu uma dezena do terço. Ali, com uma voz cansada da idade mas que deixava transparecer uma mulher consciente e forte, a mãe que viu o seu filho com 37 anos partir de uma forma violenta, percebíamos uma mãe realizada e feliz. Qual a mãe que não gostaria de estar na beatificação do seu filho? Ela que participou na dor da morte, agora como que pôde participar antecipadamente na glória da ressurreição. Se é normal uma mãe e um pai dizerem que querem o melhor para o seu filho, pode alguém querer menos do que esta santidade para o seu filho? Mesmo que seja através do martírio? Mas, claro, é preciso viver da fé para não desesperar e saber esperar. Ver esta velhinha bem firme com os seus outros dois filhos na primeira fila da missa é ter a certeza de que é possível viver assim.

E pensar que poucos dias antes desta beatificação, na Turquia, o bispo D. Luigi Padovese, presidente da Conferência Episcopal da Turquia, fora assassinado pelo seu motorista, que dizem que estava doido! O ódio pode não desaparecer, mas a fé e o amor terão a vitória. Porque a fé e o amor não são coisas humanas apenas, mas dons de Deus e Deus não desiste.