Domingo |
À procura da Palavra
O primeiro ‘servidor’
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DOMINGO XXIX COMUM Ano B
"Quem entre vós quiser tornar-se grande,
será vosso servo.”
Mc 10, 43

 


Durante muito tempo, e talvez ainda hoje se mantenha na mente de muitos de nós, as “missões” evocavam sempre um missionário de barbas grandes, batina branca e ar bondoso, rodeado por indígenas dos distantes cantos do mundo. A “missão” lembrava terras longínquas e gentes que ainda não “conheciam Nosso Senhor”, mas foi-se tornando uma palavra mais presente à medida que crescia a urbanização na Europa, e o desenraízamento cultural e religioso ia ganhando espaço. Já o Cardeal Cerejeira dizia que a missão “começa às portas de Lisboa”. E vemos, cada vez mais, que começa na identidade de cada um de nós, discípulos de Jesus Cristo. 

O Papa Francisco relembra, na sua Mensagem para o Dia Mundial das Missões: “A missão não é proselitismo, nem mera estratégia; a missão faz parte da «gramática» da fé, é algo de imprescindível para quem se coloca à escuta da voz do Espírito, que sussurra «vem» e «vai». Quem segue Cristo não pode deixar de tornar-se missionário.” E sintetiza: “A missão é uma paixão por Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, uma paixão pelas pessoas.” E é essa coerência de vida assente no serviço que o Papa Francisco tem interpelado, em especial os mais responsáveis na Igreja: denunciando, entre outras, “a doença do proveito mundano, dos exibicionismos, quando o apóstolo transforma o seu serviço em poder e o seu poder em mercadoria para obter dividendos humanos ou mais poder”, aos membros da Cúria romana (22.12.2014), e alertando os bispos dos Estados Unidos que “é útil ao bispo possuir a clarividência do líder e a esperteza do administrador, mas decaímos inexoravelmente quando confundimos a potência da força com a força da impotência, através da qual Deus nos redimiu” (23.09.2015).

Se isto dissesse apenas respeito aos bispos e cardeais, podíamos passar de lado! Mas Tiago e João, com o seu pedido dos lugares à direita e à esquerda de Jesus desmascaram os nossos desejos de poder e importância. Mesmo, e principalmente, quando estamos em “missões” sagradas. Será que nos julgamos acima dos outros? Ou vale sempre a pena “meter uma cunha”? Só quando sintonizamos com a lógica de servir que Jesus nos dá, é possível ultrapassar estas tentações. “O sonho missionário de chegar a todos” (da Evangelii Gaudium, e lema do Sínodo Diocesano de Lisboa) não é “angariação de novos sócios”, nem “nostalgia da cristandade perdida”, mas doação de vida, como Jesus, para que todos “tenham vida em abundância”! É compromisso em favor do homem todo e de todos os homens e mulheres, é trabalho de humanização onde há injustiça e de divinização onde não há sonhos, é paixão e morte para que todos ressuscitem!

O que ficava gravado, e continua a gravar-se, no coração de quem recebe um anúncio de Cristo, é a vida que dá corpo à palavra. Reconhece-se o amor e o serviço quase imediatamente; e a falsidade e o oportunismo também. Servir não é exclusivo de nenhuma religião ou grupo, mas é o “modo cristão de entender a verdadeira realização da vida humana, unida à de Jesus, aquela que pode trazer ao mundo a alegria, a simplicidade de coração e a paz” (Gaspar Mora). Como se dizia no filme “A vida é bela”, de Roberto Benigni: “Servire è l'arte suprema; Dio è il primo servitore”. Sim, “Deus é o primeiro servidor”!

 

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